Como seguir em frente em meio à dor? Como encarar os traumas, dúvidas, dificuldades? Como encontrar o caminho para ter força e ficar de pé?
Pétalas caíram do céu para lembrar o primeiro aniversário de uma das piores tragédias do futebol, nesta terça-feira, que definiu o fim do sonho da Chapecoense em um acidente aéreo na Colômbia.
Dois helicópteros da Força Aérea do país atiraram flores do alto, acima da praça central do município de La Unión, lembrando os que encontraram a morte no caminho da glória, em montanha onde caiu o avião que levava a equipe.
No total, 71 pessoas perderam a vida, entre elas 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove dirigentes do clube catarinense. Apenas seis passageiros sobreviveram: uma comissária de bordo, um técnico de aviação, um jornalista e três jogadores.
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A Chapecoense voava para disputar a primeira final continental contra o Atlético Nacional de Medellín, pela Copa Sul-americana.
Às 22:10h, o voo 2933 da companhia aérea LaMia desapareceu quando estava perto de aterrizar no aeroporto internacional de Rionegro, que serve a cidade de Medellín. O avião que tinha saído da Bolívia caiu no Cerro El Gordo, localizado a 2.600 metros de altitude dentro do município de La Unión.
– A glória estava próxima. A tragédia apagou esse sonho – afirmou Andrés Botero, presidente do Nacional de Medellín.
O atual campeão do futebol colombiano, que cedeu o título de campeão da Sul-americana 2016 à Chapecoense, organizou a homenagem, que incluiu um minuto de silêncio.
Enquanto os helicópteros deixavam cair as pétalas, os nomes das vítimas foram lidos e imortalizados em uma placa.
Além disso, o Nacional entregou lápis e papel para os assistentes escreverem mensagens de solidariedade à Chape e depositarem na “cápsula do tempo”, que será aberto daqui a 40 anos.
– Meus amigos chapecoenses nunca serão esquecidos – disse Botero, que anunciou que um mural será dedicado à tragédia no estádio Atanasio Girardot, onde a decisão da Sul-americana seria realizada. Além dos dirigentes, três jogadores assistiram ao ato.
Ainda sem conclusões, as investigações revelaram que o avião viajava com pouco combustível e sobrepeso. O falecido piloto foi responsabilizado e dezenas de funcionários da companhia aérea e do Estado estão presos na Bolívia.
Após a homenagem em La Unión, uma missa foi realizada no monte que agora leva o nome da Chapecoense. Um altar foi levantado no local onde restou a fuselagem. Duas cruzes de madeira dominavam a vista de dezenas de pessoas que compareceram com a camisa do Nacional.
Aos pés da cruz, uma família chorava. Os pais de Silsa Arias, co-pilota boliviana morta na tragédia, viajaram da Bolívia para se despedirem de sua filha.
– Viemos para dar um abraço e dizer que vamos procurar continuar sem ela. Trouxemos um pouco de suas cinzas e jogamos (na montanha), uma imagens que certamente mostrarei a seus dois filhos quando começarem a fazer perguntas – disse Jorge, seu pai.
Na montanha, Luis Albeiro Valencia, de 53 anos, levantou um monumento em seu terreno lembrando o acontecido em La Unión há um ano. No alto de uma vara está a réplica em madeira do avião, ao lado de duas colunas de ladrilho. Uma delas está coroada com a roda do trem de aterrizagem e a outra com uma bola vazia.
Os últimos objetos, garante Valencia, foram conseguidos por sua ajuda nos trabalhos de resgate.
– Isto é para lembrar, para que não nos esqueçamos deles. Porque com o tempo todos se esquecerão deste morro.
No Brasil, o Furacão do Oeste decidiu não realizar nenhum ato em “respeito aos que ficaram e pelas boas lembranças”, mas abriu as portas da Arena Condá para os visitantes. O estádio tem um espaço especial para orações.
Além disso, o túnel que conecta os vestiários ao gramado será decorado com imagens dos membros do time envolvidos no acidente comemorando vitórias.
O estádio também vai acolher a vigília de “algumas luzes que nunca se apagam”, organizada pela Diócese de Chapecó.
Após o golpe há um ano, a Chapecoense precisou encarar dolorosa reconstrução marcada por altos e baixos. O time conseguiu se manter na elite do futebol brasileiro para o ano de 2018, objetivo principal da temporada, conquistou o campeonato catarinense e ainda pode beliscar uma vaga na Libertadores.
Dos três jogadores que sobreviveram, apenas o lateral Alan Ruschel voltou a jogar com o time, após recuperação quase milagrosa.
Enquanto o goleiro Jackson Follmann perdeu a perna direita, o zagueiro Neto, último dos sobreviventes a ser resgatado, ainda está em recuperação. A volta aos gramados está prevista para o ano que vem.
Os outros dois que se salvaram da morte, a comissária Ximena Suárez e o mecânico Erwin Tumiri, retomam suas vidas pouco a pouco na Bolívia. A primeira atua como modelo e dá palestras motivacionais. Quase todos voltaram a voar.
Com informações de O Globo