Uma enfermeira de Maringá (PR) fez uma carta pública em resposta a postagem do médico Cassius Frigulha em que enfermeiros eram ofendidos. O caso ganhou grande repercussão na quinta-feira nas redes sociais e ganhou um novo episódio.
Cassius questionou o posicionamento de enfermeiros que, segundo palavras dele postadas na internet, estudam metade do tempo que um médico e querem agir como o profissional. Ao fim do texto, o médico ainda chamou os enfermeiros de frustrados.
“Para que fazer enfermagem se querem agir como médicos? Façam Medicina! Enfermagem é cuidado, intubar, prescrever, diagnosticar e tratar, é sempre foi e sempre será atribuição médica! Não adianta fazer cursinho de bosta! Frustrados!”
Uma retratação pública foi feita pelo Médico Cassius Frigulha que pediu desculpa pela opinião equivocada e que estaria com alguns problemas pessoais e por isso acabou ofendendo toda a classe de enfermeiros sem necessidade.
O pedido de desculpas, porém, não diminuiu a repercussão e a polêmica em torno do episódio.
A resposta da enfermeira sobre a postagem do médico já foi compartilhada dezenas de vezes. Veja:
Senhor Dr. Cassius,
Fiz o curso de Enfermagem e nunca pensei que seria menos, por essa escolha.
Estudei 4 anos de graduação (INTEGRAL), dois de especialização, dois de mestrado, quatro de doutorado e mais um de pós-doutorado. Estudei pouco? Ainda preciso muito mais. Estudo todos os dias. Não sou menos nem mais que meus colegas de profissão, somos uma equipe. Aprendemos um com o outro.
Sobre intubar, prescrever, diagnosticar e tratar, é uma área médica que sempre vamos admirar por toda dedicação e anos de estudo que vocês médicos possuem. Eu conheço centenas deles, dedicam suas vidas para salvar outras. Terão sempre o nosso respeito!
Sabe o que é frustração?
Frustração, é um profissional de saúde ir trabalhar e não ter o mínimo de condições de trabalho.
É ver meus colegas trabalharem (6h, 12h, 24h) em dois ou três empregos para conseguirem manter uma família.
Frustração é ver o corredor de um hospital repleto de pacientes engavetados, por falta de leito hospitalar.
Sabe Dr. Cassius, eu trabalho com pessoas com doenças raras e a minha maior frustração hoje, é assistir a morte deles todos os dias por falta de medicamento.
Ah …
No meu curso de graduação, eu também aprendi higienizar o paciente. Uma vez, eu cheguei no quarto do paciente (cerca de 70 anos) ele tinha câncer no pescoço e o cheiro estava realmente muito forte. Ele me disse que recebia poucas visitas da família e ficava muito sozinho. Então, conversando com ele… iniciei a higienização (essa é a terminologia, ok?). Auxiliei no banho, fiz a barba, o curativo, cortei as unhas e cortei o cabelo também. Quando me despedi, ele sorriu!Talvez, ele tivesse só mais alguns dias de vida …
Nos momentos de higienização, conseguimos identificar sinais e sintomas importantes que podem auxiliar a conduta médica. Muito longe de fazer um diagnóstico e sim um trabalho em equipe.
Sobre “dar ordens” , temos uma disciplina denominada Administração em Enfermagem ou gestão em saúde pública. O Brasil, é um dos poucos países que forma o enfermeiro para ser líder de equipe. Ele é habilitado para fazer gestão de uma enfermaria, um hospital ou um município. Aliás, entre os profissionais de saúde, é o mais preparado sim. Tenho muitos ex alunos trabalhando como secretários de saúde, e desempenham com excelência o seu papel. A relação está muito longe de “dar ordens”, mas sim em dominar o assunto e organizar o cuidado ao paciente ou serviço de saúde. Brigamos pelo paciente, pois conhecemos os pormenores na vida de cada um deles.
Sou grata pela minha profissão e pela existência de cerca de 1.480.653 enfermeiros que cuidam do Brasil.
Enfermeira Geisa Luz
Maringá – Paraná
Com informações da UOL
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