O responsável pela agência de publicidade Lovers, contratada pela Prefeitura de Caçador para realizar a comunicação institucional, foi também o criador e gestor de uma página fake (anônima) no Facebook que falava mal de Saulo Sperotto, adversário político do atual prefeito, Beto Comazzetto.
O nome de Ricardo Cardoso aparece nos registros encaminhados pelo Facebook para a Justiça Eleitoral de Caçador como tendo sido o criador da página “Saulo Honestão”, retirada do ar a mando da própria juíza, Luciana Pelisser Gottardi Trentini, em uma das primeiras decisões do gênero no Brasil nestas eleições. O telefone celular pessoal de Ricardo consta também nos registros do Facebook.
As atualizações da página eram feitas dos mais variados locais, inclusive de Caçador. O Facebook disponibilizou os IPs dos acessos, que mostram que a página foi acessada e atualizada de Joinville, sede da agência Lovers, Brasília, São Paulo, Paraná e dos Estados Unidos.
Pelo mesmo telefone que o Facebook apontou como tendo sido criada a página, a equipe do Portal Notícia Hoje entrou em contato com Ricardo. Ele negou conhecer o processo e afirmou que não está trabalhando na campanha de Beto. “Não estou trabalhando na eleição do Beto. Vou chegar em Caçador e vou olhar. Não tenho conhecimento de nenhum processo e só posso falar quando eu tiver conhecimento. Não tenho conhecimento de nenhum processo no meu nome e nenhuma página no Facebook ligada ao meu nome”, disse.
Quando indagado sobre o seu número de telefone constar nas informações do Facebook, Ricardo afirmou: “Vou averiguar, mas não tenho conhecimento de nenhum processo. Não fui informado nem pelo Facebook e nem pela Justiça Eleitoral. Não estou trabalhando na campanha de Caçador”.
Entretanto, Ricardo já foi visto por várias vezes na campanha, inclusive em fotos ao lado do prefeito Beto Comazzetto.
Outros dois nomes são citados pelo Facebook como sendo administradores da página, com números de celulares: Mateus Formigari e Luana lsse de Freitas.
A reportagem entrou em contato com Mateus pelo celular, mas estava desligado. Já Luana foi localizada através do número de telefone informado pelo Facebook. Ela afirmou que não tem nada a dizer e que não administrava a página. “Não era minha”, completou.
O que diz a Legislação
Prática cada vez mais comum nas redes sociais, a contratação de pessoas para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidatos na internet é crime eleitoral, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte lembra que a ação prevê detenção e multas tanto para contratadores quanto para quem for contratado.
O artigo 57-H da lei 9.504, prevê detenção de 2 a 4 anos e multa de R$ 15 mil a R$ 50 mil para quem contrata o “troll”, os famosos ‘fakes‘ das redes sociais – sujeito que ataca a honra ou atua para denegrir partidos, coligações ou candidatos. Já quem foi contratado por ser detido de seis meses até um ano e pode pagar multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil.
O que dizem os candidatos
Procurado, o prefeito Beto Comazzetto não quis se pronunciar a respeito do assunto.
Já o candidato Saulo Sperotto, alvo da página fake e das acusações, lamentou a atitude. “Acho lamentável que pessoas que prestaram serviços pra administração municipal, recebendo dinheiro do povo caçadorense, agora venham praticar este tipo de jogo sujo na eleição”, afirmou Sperotto.
O candidato espera que o Ministério Público tome as devidas providências. “Este é o tipo de ação que desmoraliza a atividade política. É inaceitável. Espero sinceramente que a Justiça aja e puna os responsáveis”, completou.
Contratos com agências de publicidade superam R$ 4 milhões
A Prefeitura de Caçador contratou, desde o início da gestão de Beto Comazzetto, duas agências de publicidade: A Intermídia, que teria sede em São Paulo e, depois, a Lovers, com sede em Joinville.
Tanto de uma, quanto de outra, o representante sempre foi o mesmo: Ricardo Cardoso, citado pelo próprio Facebook como sendo o criador da página fake Saulo Honestão.
Em fevereiro deste ano, o vereador Carlos Evandro Luz (PMDB) criticou os contratos. Segundo ele, no primeiro ano de Governo, Beto gastou R$ 300 mil com a agência Intermídia. Já no segundo ano, em 2014, os gastos ultrapassaram R$ 600 mil, de acordo com Carlão.
No início de 2015, a Prefeitura fez um processo licitatório e contratou a Lovers, desta vez por R$ 1,6 milhão. Coincidentemente, o mesmo contrato foi renovado para mais um ano, em fevereiro de 2016, no mesmo valor: R$ 1,6 milhão.