Conversar com o filho sobre a puberdade pode ser difícil em qualquer idade, mas discutir mudanças corporais normais com o filho de 12 anos pode não parecer tão assustador quanto conversar com um de 6 anos. Casos envolvendo crianças mais novas, que se desenvolvem precocemente, são situações difíceis para pais e cuidadores que se deparam com muitas dúvidas.
Nesta entrevista, a médica da Unimed Caçador, pediatra Dra. Maria Aparecida Marques Habermann, analisa as causas e os sinais da puberdade precoce, orientando e compartilhando algumas maneiras de tratamento.
A especialista explica que a puberdade é um processo fisiológico, caracterizada pela transição da infância para a fase adulta, na qual ocorrem alterações hormonais, físicas e psíquicas. Nas meninas, a puberdade se inicia a partir dos 8 anos de idade, com o aparecimento das mamas, seguida do desenvolvimento de pelos pubianos, e nos meninos, a partir dos 9 anos, com o aumento do volume testicular e posteriormente do pênis. “Quando a puberdade ocorre antes dos 8 anos nas meninas e antes dos 9 anos em meninos chamamos de puberdade precoce”, destaca.
Segundo Dra. Maria Aparecida considera-se puberdade tardia quando iniciada após os 13 anos em meninas e 14 anos em meninos. “Estudos mais recentes apontam que meninas são mais propensas a apresentar a puberdade precoce, porém quando presente em meninos estes têm maior risco de apresentar causas mais graves”, diz.
A médica explica que várias são as causas do desenvolvimento puberal, como fatores genéticos, nutricionais, ambientais, étnicos e socioeconômicos. “Com relação à puberdade precoce a mesma pode estar associada à exposição da criança a algum hormônio (uso de algum medicamento), glândulas como hipófise, ovários nas meninas e testículos em meninos, passam a produzir, por algum motivo, hormônios sexuais precocemente, mães de meninas que menstruaram mais cedo, história na família de puberdade precoce, obesidade na infância, dentre outros”, comenta.
Outro fator importante que pode estar associado a puberdade precoce seriam os desreguladores ou disruptores endócrinos que são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, presentes no ambiente que agem substituindo, bloqueando, aumentando ou diminuindo a quantidade de hormônios em nosso corpo, causando alteração da função endócrina, principalmente da função sexual e reprodutiva.
Alguns exemplos de desreguladores endócrinos são os pesticidas, bisfenol A (BPA) e ftalatos que são utilizados em produtos infantis, produtos de higiene pessoal e recipientes de alimentos, os parabenos que são conservantes utilizados em muitos produtos cosméticos, alguns tipos de metais e os fitoestrógenos que são substâncias com ação estrogênica produzidas naturalmente por plantas como a soja. Mas estudos apontam que seria necessário ingerir por muito tempo e grande quantidade a soja para poder causar alteração hormonal.
Sinais da puberdade precoce
Meninos: crescimento rápido, odor axilar, acne, pelo pubiano e axilares, mudança na voz e aumento dos testículos.
Meninas: crescimento rápido, odor axilar, acne, pelos pubianos e axilares, crescimento mamário e primeira menstruação.
Em alguns casos o surgimento de mamas antes dos oito anos pode ser uma variação da normalidade, e não exige tratamento, porém requer uma avaliação criteriosa de um médico.
Consequências da puberdade precoce nas crianças
A médica pediatra Maria Aparecida destaca que as principais consequências da puberdade precoce são: transtornos psicológicos e de comportamento; maior risco de abuso sexual; baixa estatura quando adulto; maior risco de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e certos tipos de câncer – atribuídos à exposição precoce ao hormônio estrógeno. O diagnóstico da puberdade precoce é realizado a partir de uma avaliação médica, juntamente com exames laboratoriais e de imagem.
Como é feito o tratamento?
O tratamento depende da causa da puberdade precoce, podendo ser usados medicamentos para retardar a progressão da puberdade (injeção de hormônio sintético), cirurgia para remover a causa do problema e algumas vezes nenhum tratamento é recomendado, além do acompanhamento médico.