Jovens que vivem em abrigos do Estado em Caçador e região poderão acessar as formações oferecidas por meio do Programa Novos Caminhos. A Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) em parceria com o Tribunal de Justiça (TJ-SC), a Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) formalizaram nesta quinta-feira (1º) o início das atividades. Durante o evento, empresas da região assinaram adesão ao programa para ofertar postos de trabalho aos jovens do Novos Caminhos.
O programa integra as ações do Movimento Santa Catarina pela Educação e tem como finalidade qualificar e profissionalizar os mais de 400 adolescentes com idade a partir de 14 anos, que se encontram ou passaram por situação de acolhimento no Estado, para serem preparados para o mercado.
O foco é a educação para o mundo do trabalho e para a cidadania, com o objetivo de ofertar aos adolescentes, além da formação técnica, uma formação social, voltada ao relacionamento, disse o presidente da FIESC, Glauco José Côrte. “Saber ser, conviver e fazer. Trata-se da prática dos princípios da formação integral e de promover a inclusão social”, afirmou. Para Côrte, a disponibilidade de tempo é o maior bem que os jovens que estão nos programas de acolhimento possuem. “O que os move é a esperança. Temos que motivar, e não deixar que percam a esperança que têm no coração e na alma”, destacou, lembrando que a Constituição diz que a educação é direito de todos os brasileiros e dever do Estado e da família.
Nos três anos de funcionamento já foram atendidos 607 jovens e 111 já foram inseridos no mundo do trabalho em Santa Catarina. Os adolescentes atendidos pelo Novos Caminhos não são infratores e não estão em situação de conflito com a lei, lembrou o gerente executivo do IEL/SC, Natalino Uggioni. “O programa visa justamente a evitar que isso venha a acontecer”, afirmou, destacando que o objetivo é que saiam com carteira assinada. “Se a sociedade não agir, vai ser vítima. Muitas vezes eles precisam apenas de uma oportunidade”, disse a juíza Jussara Schittler dos Santos Wandscheer, presidente em exercício da AMC, que considera que nesses três anos, a vida dos jovens atendidos mudou. Ela também pediu apoio dos empresários, defendendo que abram as portas de suas companhias para que recebam estes adolescentes.
O vice-presidente regional da FIESC, Gilberto Seleme, afirmou que o programa vem ao encontro das necessidades regionais e lembrou do contexto histórico do Centro-Norte catarinense, que viveu a Guerra do Contestado e onde “o progresso demorou para chegar”. “Conversando com as pessoas responsáveis pelo programa, a gente vê que os olhos brilham. Tenho certeza de que só pode dar certo”, disse, acrescentando que mesmo antes do lançamento, empresários manifestaram intenção de dar emprego aos jovens, o que foi confirmado ao final do evento, com a adesão de diversas empresas ao programa.
Com o Novos Caminhos, os adolescentes têm a oportunidade de buscar a autonomia, enquanto antes dele eram simplesmente desligados dos programas de acolhimento e entregues à própria sorte ao completarem 18 anos, lembrou o desembargador Sérgio Heil, do TJ-SC. “Quebramos esse paradigma e mudamos essa história”, avaliou. Ele chamou atenção para o fato de o Novos Caminhos ter ganhado perenidade, ao deixar de ser um projeto para se tornar um programa, incorporado à agenda das entidades envolvidas.
Gestão escolar – Ainda nesta quinta-feira (1º), a FIESC promoveu o seminário Diálogos sobre Gestão Escolar em Caçador. O tema é foco das ações do Movimento Santa Catarina pela Educação em 2016. O encontro ocorreu na Uniarp, com a participação do diretor institucional do Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED), Antônio José Vieira de Paiva Neto. No evento, o presidente da FIESC lembrou que a produtividade do trabalhador brasileiro está abaixo da produtividade daqueles que trabalham nos países com os quais a indústria brasileira compete. Isso ocorre, entre outros motivos, devido ao nível educacional brasileiro e Côrte chamou atenção para a importância de uma boa gestão das escolas para transformar essa realidade.
Ausência de organização curricular, deficiência na formação dos professores, gestão pouco profissionalizada e infraestrutura precária nas escolas são as grandes deficiências da educação brasileira, segundo Paiva Neto. Para ele, a reduzida visão estratégica das políticas educacionais está diretamente ligada com a falta de planejamento estratégico, equipes técnicas deficientes na gestão, limitações no financiamento educacional e a precariedade da gestão e do acompanhamento das políticas educacionais. O resultado: analfabetismo, baixa proficiência em leitura e pensamento lógico, altíssimas taxas de distorção entre idade e série dos alunos, abandono escolar e baixo desempenho em avaliações internacionais.
Os eventos do Movimento, que estão sendo realizados em todas as regiões catarinenses, mostram que os gestores também precisam estar preparados para saber como utilizar, otimizar e racionalizar os recursos disponíveis que auxiliam na administração das escolas, da mesma forma como ocorre nas empresas. O gestor escolar precisa ir além das questões pedagógicas e ter consistentes conhecimentos em áreas como contabilidade, finanças e recursos humanos.