Pai e madrasta são condenados pela morte do menino Bernardo Boldrini

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O Conselho de Sentença do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou, nesta sexta-feira, 15, o médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, e a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini pela morte do garoto de 11 anos em 2014. A amiga de Graciele, Edelvânia Wirganovicz e o irmão, Evandro, também foram considerados culpados.

As portas do fórum foram abertas ao público às 18h45 e a sentença, foi proferida pela juíza Sucilene Engler a partir das 19h. Leandro Boldrini foi condenado a 33 anos e 8 meses de reclusão e a madrasta, Graciele, a 34 anos e 7 meses de prisão. A pena de Edelvânia Wirganovicz foi fixada em 23 anos em regime inicialmente fechado, e a de seu irmão, Evandro, em 9 anos e 6 meses, em regime semi-aberto, já que está preso há 4 anos e 11 meses.

Evandro Wirganovicz vai para o semi-aberto por já ter cumprido um sexto da pena, como prevê a Lei de Execução Penal.

O longo julgamento do crime conhecido como Caso Bernardo esteve à altura da crueldade de sua concepção e execução. Foram cinco dias de trabalho, em um total de mais de 50 horas dentro do único fórum de Três Passos, município de 23.000 habitantes localizado no noroeste do Rio Grande do Sul. Com apresentação de vídeos, áudios e depoimentos de quinze testemunhas de defesa e de acusação, os sete jurados deram seus entendimentos sobre os réus.

Responderam ao processo criminal o pai da vítima, o médico Leandro Boldrini, a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, e Evandro, irmão de Edelvânia. Os quatro foram julgados pelo Conselho de Sentença do Tribunal do Júri por crimes variados: homicídio quadruplamente qualificado (Leandro e Graciele), triplamente qualificado (Edelvânia) e duplamente qualificado (Evandro), além de ocultação de cadáver. Leandro Boldrini também respondia pelo crime de falsidade ideológica. Até agora, eles estavam presos de forma preventiva, um exemplo clássico da demora da justiça brasileira: Bernardo foi assassinado na tarde do dia 4 de abril de 2014.

O julgamento foi transmitido em tempo real pelo Tribunal de Justiça. Expôs os meandros da linha de investigação e permitiu ao público mergulhar dentro da vida de horror à qual a vítima era submetida. A única interrupção de transmissão foi por determinação da juíza Sucilene Engler, no momento em que o Ministério Público mostrou imagens do corpo sendo retirado da cova vertical e também no Instituto Médico Legal. As cenas marcantes jamais serão esquecidas pelos presentes no fórum.

O menino vivia em um ambiente de “desamor”, conforme atestou sua ex-psicóloga Ariane Schmitt. O maior martírio se dava dentro do que deveria ser chamado de “lar”. O garoto não podia ver TV, nadar na piscina, comer à mesa com a madrasta e encostar na meia-irmã, Maria Valentina. Alguns depoimentos cravaram: ele passava fome. Morava em uma casa de quatro quartos e tinha um pai que ganhava 30.000 reais por mês, mas fazia refeição na casa de amigos e vizinhos. O garoto perambulava pela cidade em busca de um teto, de um alento, de um bife.

A comerciante Juçara Petry, o maior esteio do garoto em seus últimos anos de vida, contou inúmeros exemplos do tal desamor. Dois deles: o pai não ter ido à primeira-comunhão do filho e a madrasta se recusar a abrir o portão de casa quando caia uma chuva torrencial em domingo de noite.

Assistir ao júri permitiu entender, com minúcias, farpas, acusações e cinismo, a estratégia de defesa de cada réu. Graciele, a madrasta, credita o relacionamento conturbado com o enteado à uma depressão pós-parto – mas critica o comportamento do ser humano de quem tirou a vida: “ele era rebelde”. Chorando bastante, mas com lágrimas que não convenceram, ela afirmou que a vítima tomou sozinho o sedativo midazolan, que estava em sua bolsa, durante uma viagem de carro até a cidade de Frederico Westphalen. Quando Graciele viu, a boca dele estava espumando e já não tinha mais batimento cardíaco. O que ela fez? Decidiu enterrar em cova vertical com a ajuda de uma amiga, por “medo” de acharem que ela matou de propósito. Ninguém comprou a versão – até porque vídeos mostraram ela dizendo claramente ao garoto: “vamos ver quem vai ser enterrado primeiro” e “prefiro apodrecer em uma cadeia a viver com você”. Talvez tenha sido uma profecia.

Três Passos parou para acompanhar o julgamento, seja dentro do fórum ou pela internet, até porque muitos moradores ajudaram a procurar o menino quando acreditava que o mesmo tinha “desaparecido”. Cartazes com o rosto do “guri”, como se fala no Rio Grande do Sul, sorridente foram colados em comércios e postos de saúde da região.

Bernardo está enterrado na cidade de Santa Maria, no mesmo túmulo de sua mãe, Odilaine, morta em 2010 por suicídio. Jussara Uglione, a avó materna, morreu em 2017 sem ver a justiça ser feita. Agora a senhora pode descansar em paz.

Com informações Veja 

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