Uma nova faixa etária tem liderado as mortes em decorrência da Covid-19 em Santa Catarina após a vacinação dos idosos. As faixas que vão dos 20 aos 39 anos e dos 40 aos 59 anos elevaram as suas participações no agregado de óbitos no Estado.
Por outro lado, a morte de idosos em decorrência da Covid-19 diminuiu cerca 50% nos últimos três meses. O dado positivo é reflexo da vacinação dessa população em Santa Catarina.
As constatações estão descritas em um artigo publicado pelo Necat/UFSC (Núcleo de Estudos de Economia Catarinense da Universidade Federal de Santa Catarina) na última sexta-feira (9).
A última atualização do vacinômetro do governo do Estado, realizada na manhã desta segunda-feira (12), mostra que mais de 90% da população entre 70 a 84 anos já recebeu o reforço da vacina contra a Covid-19. Já entre as faixas abaixo dos 59 anos, a segunda aplicação caminha em passos lentos, não ultrapassando os 10%.
No início de julho, o governo do Estado divulgou a queda de 75% no número de mortes causadas pela Covid-19 em idosos com mais de 60 anos e uma redução de 26% nas demais faixas etárias.
Apesar de constatar que houve uma redução nos óbitos entre idosos, a análise do Necat aponta que os percentuais divulgados podem estar distorcidos.
Inconsistências nos dados
Um dos pontos elencados pelo Necat para as supostas incoerências, se refere ao Estado ter tomado como comparação o mês de março de 2021, quando ocorreu uma explosão de casos e óbitos no país e em Santa Catarina.
No mês em questão ocorreram mais de 20% de todos os óbitos registrados em Santa Catarina até o momento.
Sendo assim, o núcleo de estudos da UFSC diz que março não pode servir como ponto de referência para se analisar os impactos da vacinação sobre a redução das mortes, “tendo em vista que, além do processo de imunização ter iniciado no mês de janeiro de 2021, a grande explosão de óbitos provoca um desvio estatístico ao se tomar esse mês como ponto de partida para qualquer cálculo percentual.”
O Necat acrescenta que as informações utilizados para a elaboração do gráfico que apresenta o percentual divulgado oficialmente são totalmente distintas dos dados oficiais de óbitos que constam dos boletins epidemiológicos.
Além disso, diz que o calendário diferenciado de vacinação entre as diversas faixas etárias que fazem parte do “grupo de idosos” provoca efeitos diferentes sobre os percentuais de redução de óbitos em cada faixa específica desse contingente.
Evolução dos óbitos em SC
O professor Lauro Mattei, que coordena o Necat e assina o boletim, analisa a evolução de casos e óbitos em Santa Catarina mês a mês, tendo como referência o início da vacinação no país, em janeiro.
Ele destaca que a partir da virada do ano observou-se um aumento expressivo de óbitos em comparação com o total registrado nos meses anteriores. Nos dez primeiros meses de pandemia (março a dezembro de 2020) ocorrem 31% do total de mortes registradas até o momento.
Somente nos dois primeiros meses de 2021, os óbitos registrados passaram a responder por aproximadamente 12% do total de mortes ocorridas no Estado.
O mês de março registrou 21% do total de mortes em 16 meses de pandemia. Isso significou um crescimento de 48% em relação ao total existente até o mês anterior, conforme o estudo.
Essa escalada de óbitos continuou nos três meses seguintes (abril a junho), quando foram registradas mais 5.976 mortes, o que corresponde a 35% do total. Com isso, nota-se que somente em quatro meses de 2021 (março a junho) ocorreram 56% do total de óbitos registrados no Estado.
Somando os percentuais dos meses de janeiro e fevereiro, verifica-se que 68% de todos os óbitos registrados no Estado ocorreram nos seis primeiros meses de 2021.
Óbitos por faixas etárias
O estudo analisa a participação percentual dos óbitos por cada faixa etária no total estadual a partir do mês de agosto de 2020 até junho de 2021.
O percentual de óbitos na faixa entre 0-19 anos praticamente se manteve inalterado ao longo de todo o período considerado.
Já as duas faixas intermediárias (20-39 e 40-59 anos) apresentaram tendência de aumento de suas participações no agregado estadual de óbitos, sobretudo a segunda, que atingiu o patamar de 25% no mês de junho de 2021.
Somente nos últimos três meses, houve um aumento de 14% nos óbitos registrados na faixa de até 59 anos.
“Em grande medida, esse fato ocorre porque a vacinação das pessoas nas faixas abaixo de 60 anos é bem recente e ainda não provocou nenhum efeito redutivo dos percentuais de óbitos dessas faixas etárias”, aponta o boletim.
Redução das mortes entre idosos
Em sentido oposto, a faixa de 60 a 79 anos iniciou um processo de redução de seu percentual de participação a partir do mês de maio, situando-se em 50% no último mês.
Quando se consideram os meses de abril a junho, o boletim constata que as reduções nas mortes foram mais expressivas ainda na faixa de pessoas idosas. A tendência seguiu em junho, porém em um patamar inferior em comparação com os meses anteriores.
Com isso, e excluindo-se as distorções das informações de março, verifica-se uma redução de aproximadamente 50% dos óbitos de idosos nos últimos três meses. Para o Necat, esse percentual está diretamente relacionado ao plano de imunização contra a Covid-19 dessa faixa etária.
Alerta para acima dos 80 anos
Os dados positivos da vacinação entre idosos vêm acompanhados de um alerta para a necessidade de manutenção dos cuidados. Isso porque a faixa etária acima dos 80 anos apresentou um aumento de 21% nos óbitos em junho, em comparação com o mês de maio, segundo o Necat.
“Esse cenário poderá se agravar ainda mais diante da iminência de uma nova expansão da doença impulsionada pela variante Delta”, destaca.
Dentre as possíveis explicações para o aumento das mortes na população acima de 80 anos, está a falta de imunização completa dessa faixa etária em um número expressivo de cidades do Estado.
O vacinômetro mostra que 78,2% das pessoas de 85 a 89 anos receberam a segunda dose da vacina, apesar da imunização dessa faixa etária já ter iniciado há cerca de quatro meses.
No que se refere à população de 90 ou mais, a taxa é ainda menor. O painel indica que somente 50,4% dessa faixa etária recebeu o reforço vacinal.
O que diz o Estado
Com relação às distorções apontadas pelo Necat, a SES (Secretaria de Estado da Saúde) informou que os dados foram baseados nos meses de março, abril e junho. A análise mostra como a redução de óbitos entre os idosos foi significativamente mais acentuada do que entre as pessoas até 59 anos, como efeito da vacinação.
A SES explica que, desde o início da pandemia, os óbitos entre idosos e não idosos subiram e desceram, aproximadamente, de forma proporcional entre as duas faixas etárias.
No período de março em diante houve uma disparidade maior entre os óbitos como resultado da vacinação. Com isso, houve a redução mais acentuada entre os idosos do que nas faixas mais jovens.
Por fim, a SES informa que os boletins são diários e utilizam os dados disponíveis até aquela data. A pasta afirma que os dados divulgados têm como fonte o arquivo de dados abertos disponível no site dados.sc.gov.br, levando em consideração a data do óbito, e não a data da notificação.
Com informações ND Mais