Os irmãos Ronaldo Alves Perão e Juliana Alves Perão foram condenados nesta quarta-feira (28) pela morte de Ana Kemilli. Ela foi encontrada morta e amarrada a uma árvore aos 14 anos em fevereiro de 2021 em Campo Belo do Sul, na Serra de Santa Catarina.
O júri popular durou cerca de 20 horas, encerrando apenas na terceira hora da madrugada. Moradores do município, cuja população é inferior a 7 mil habitantes, compareceram em peso na Câmara de Vereadores de Campo Belo do Sul, onde o julgamento foi realizado.
Kemili foi assassinada por Ronaldo, que era ex-namorado da vítima e não aceitava o fim do relacionamento, de acordo com a denúncia do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina). O réu tinha 21 anos na época do crime.
Ele deve passar 23 anos e seis meses preso em regime fechado por homicídio com quatro qualificadoras (feminicídio, motivo torpe, uso de recurso que dificultou a defesa e meio cruel), ocultação de cadáver e corrupção de menor. O réu voltou à Penitenciária de Curitibanos, onde cumpri prisão preventiva.
Bruno Ribeiro, Diego Rossi e Rafael Pucci, advogados que representam Ronaldo Alves, informaram ao ND+ que ainda serão “interpostos recursos em face da decisão prolatada pelo Conselho de Sentença”. “Há ainda a análise de eventuais nulidades, hipóteses de redução de pena e novo julgamento”, destacaram os advogados.
Juliana, por sua vez, foi sentenciada a seis anos de reclusão por homicídio simples. Ela ganhou o direito de recorrer em liberdade, destaca o Ministério Público.
Júri durou 20 horas
Os jurados acolheram a denúncia do MPSC, reconhecendo que a dupla planejou e executou o homicídio. Os dois tiveram a ajuda de um adolescente para cometer o crime que recebeu a medida socioeducativa mais rígida prevista no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O julgamento aconteceu das 9h de terça-feira (27) às 5h de quarta-feira (28). A acusação foi conduzida pela Promotora de Justiça Cassilda Santiago Dallagnolo e pelo membro do GEJURI (Grupo de Atuação Especial do Tribunal do Júri), Promotor de Justiça Ricardo Paladino.
Conforme o Ministério Público, a sala ficou cheia de moradores do município. Algumas pessoas tiveram inclusive que ficar do lado de fora devido à limitação do espaço. Familiares e amigos mais próximos da vítima usaram uma camiseta com a foto dela e a frase “violência contra a mulher não tem desculpa, tem lei”.
Dentre as pessoas que foram interrogadas estão o policial civil que conduziu as investigações, Paulo Sérgio Ramos Batista; a mãe da vítima, Keli Taques; e o pai, Valdir Krindges. “Tiraram uma parte de mim. Minha alegria se foi para sempre. Aquele dia fica martelando na cabeça o tempo todo. É impossível esquecer”, desabafou Keli.
Relembre os fatos
Entre 2018 e 2019, Ana namorou Ronaldo e era cunhada de Juliana. Com o fim do relacionamento, ela se afastou dos irmãos. A partir de então, o homem passou a pressionar a adolescente, rondando a casa com um revólver e enviando mensagens ameaçadoras pelo WhatsApp, de acordo com o Ministério Público.
Inconformado com o bloqueio de seu número pela ex-namorada em razão das mensagens que enviava a ela, Ronaldo teria pedido à irmã Juliana para visitar a vítima no dia 8 de fevereiro – Ana morava no Assentamento 17 de Abril.
Como pretexto, Juliana alegou que gostaria de conhecer o irmãozinho da vítima. O objetivo era convencer Ana a sair para acompanhá-la em parte do caminho de volta para casa. Ambas caminharam juntas por cerca de 800 metros, então se despediram.
Após as duas se separarem, o adolescente de 15 anos, conhecido da vítima, cooptado pelo ex-namorado mediante a promessa de que o ajudaria em um romance com a irmã, teria abordado a menina. Assim, a fez voltar parte do trajeto até um ponto com alta vegetação, onde o acusado estaria esperando escondido.
Ali, a vítima teria sido atacada pelos dois, levada para o mato e amarrada a uma árvore, onde foi asfixiada. O corpo da adolescente só foi encontrado dois dias depois por vizinhos, ainda amarrado à árvore e coberto por folhas de vegetação local.
Com informações ND Mais