ois dias depois do anúncio do plano de retomada econômica – na prática, o relaxamento da quarentena em SC – o governador Carlos Moisés admitiu a possibilidade de voltar atrás durante a coletiva de imprensa na manhã deste sábado, 28. Jogou a responsabilidade no governo federal, que ainda não enviou equipamentos de proteção individual e aparelhagem para os novos leitos de UTI, que o Estado pretende abrir.
Ao colocar um possível adiamento da reabertura do comércio na conta do Palácio do Planalto, Moisés pode resolver dois problemas: atende aos apelos para que a quarentena seja mantida, e descola de si a responsabilidade por isso.
Há duas leituras diferentes a serem feitas. O governador oscila porque cede com facilidade? Ou encontrou um motivo forte o suficiente para manter o fechamento, sem ser apontado como o responsável por isso?
O governo Moisés não se mostrou tão maleável e tão aberto a opiniões externas na discussão dos incentivos fiscais, por exemplo. O que nos leva à segunda opção.
Santa Catarina não tem rede hospitalar suficiente para dar conta de uma contaminação em massa. O governo, é claro, sabe disso. Somados os leitos públicos e privados de UTI, temos 800 em funcionamento. De acordo com as projeções mais conservadoras, podemos chegar a uma demanda de 7 mil leitos de internação intensiva por casos graves de covid-19.
Uma situação como essa, em um curto período de tempo, tem nome e sobrenome: colapso do sistema de saúde. O resultado seria um desgaste inevitável ao governador. Afinal, foi ele quem cedeu aos apelos dos empresários e abriu mão da quarentena total.
Moisés já anunciou que quer praticamente dobrar o número de leitos de UTI em Santa Catarina em 30 dias. Sem resposta rápida e efetiva do governo federal, não poderá fazer isso. É motivo suficiente para cancelar a reabertura do comércio e o ensaio de “vida normal”, como prega o presidente da República.
Nesse cenário, Moisés devolve a Bolsonaro a responsabilidade pelo agravamento da crise econômica, decorrente da pandemia, e ainda descola sua imagem de um delirante presidente da República.
No xadrez da política, pode ser uma jogada de mestre.
Com informações da colunista da NSC, Dagmara Spautz