Sem emprego na TV há mais de um ano, Rodolfo Carlos de Almeida pegou na enxada e foi para a roça. Literalmente. Duas vezes por semana, ele trabalha com um amigo no cultivo de hortaliças orgânicas em uma chácara na Grande São Paulo. Ex-parceiro de Cláudio Chirinian, o ET, o repórter de Ratinho e Gugu coloca todas as esperanças de um futuro melhor em uma indenização milionária que reclama do SBT, onde trabalhou durante 12 anos.
O trabalho na lavoura, além de gerar um “salário incentivo” e duas cestas de alimentos orgânicos por semana, serve como terapia e válvula de escape para a mágoa que ainda nutre pela emissora de Silvio Santos. “Estou trabalhando com a terra, pegando na enxada com orgulho. O SBT me mandou para a roça e eu gostei. Quando saio de lá, a tristeza chega”, diz.
Doente (ele diz ter depressão), com o pai sofrendo de câncer, Rodolfo confessa estar “desesperado” para por a mão na indenização trabalhista. “A minha saúde tá ruim, tô morrendo de tristeza. Meu pai está vencendo um câncer e temos poucas condições financeiras. Estou desesperado. Minha vontade é de me acorrentar na frente do SBT para protestar e chamar a atenção de Silvio Santos”, diz.
Rodolfo processa o SBT na Justiça Trabalhista desde 2009, quando deixou a emissora. Em 2012, ganhou em primeira instância o direito de receber uma série de indenizações, como férias, 13º salário, Fundo de Garantia, aviso prévio e, principalmente, as diferenças decorrentes da redução de salário que sofreu, de R$ 34 mil em 2000 para R$ 5.000 em 2009. Somando tudo, são alguns milhões de reais.
Em 29 de abril deste ano, a sentença foi confirmada em última instância pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho), mas o SBT vem protelando o pagamento com recursos processuais. “A gente aguarda agora o TST confirmar que o processo está transitado em julgado e ver se o SBT vai pagar ou entrar com novo recurso”, diz o advogado de Rodolfo, Ronaldo Sposaro Júnior. Na Justiça Trabalhista, é raro um tribunal alterar uma sentença de primeira instância. “Estão tentando ressuscitar uma coisa que já está morta”, completa Sposaro Júnior.
O SBT discorda. “Ainda pende recurso extraordinário”, diz a emissora em nota. “Sequer o advogado do reclamante deu início à execução provisória da sentença, o que poderia antecipar os eventuais recebíveis”, relata, via assessoria de imprensa.
Depressão
Rodolfo só conseguiu trabalhos esporádicos na TV depois que saiu do SBT. Em 2010, ficou três meses no programa de Sonia Abrão, na RedeTV!. No ano passado, voltou a acordar famosos no programa de Gugu Liberato, na Record, mas a fórmula com a qual fez sucesso nos anos 2000 já não funciona mais.
O ex-repórter do microfone comprido tem recebido ajuda justamente de Gugu para cuidar da saúde frágil. “Fiz mais de 30 exames, não tenho nada, amém. O Gugu me pagou todos exames. O médico falou que estou com vermes. Minha doença é depressão”, fala.
Na semana passada, um simples quadro do Programa Silvio Santos deixou Rodolfo ainda mais pra baixo. O dono do SBT fez uma pergunta envolvendo a dupla que formou com ET, morto em 2010, em um quadro chamado Bolsa Família. Para Rodolfo, foi uma “provocação pública”, uma ironia com as dificuldades financeiras que enfrenta atualmente. “Sabemos que foi para me “zoar”, diz.
Ontem (16), Rodolfo reforçou seu papel de vítima em uma rede social. “O que me incomoda no momento é ver a desobediência acompanhada da provocação pública, a postergação do fim de uma maldade que me foi feita por gente poderosa”, escreveu.
Rodolfo já sabe o que fará com parte do dinheiro que espera receber do SBT. “Há anos decidi trabalhar com a terra para plantar orgânicos. Espero receber daquela empresa e investir nisso. Um amigo engenheiro agrônomo me dá aulas. Vou plantar e colher, trabalhar na terra, já que ninguém quer fazer isso”.
Jornalismo popular
Rodolfo, apesar das dificuldades que enfrenta, vive em uma casa confortável em um condomínio luxuoso na Grande São Paulo, comprada quando estava no auge. Não tem carro, gasta pouco.
Ele tem 45 anos e é formado em jornalismo, mas se considera um artista. Começou a carreira no jornalismo popular, no início da década de 1990. Produziu reportagens policiais para Gil Gomes e de direito do consumidor para Celso Russomanno no extinto Aqui Agora, do SBT. Trabalhou com Carlos Massa, o Ratinho, na CNT e depois na Record, onde formou a dupla com ET.
Em 1998, voltou para o SBT. As tentativas de acordar Silvio Santos e outros artistas renderam ao Domingo Legal picos de 30 pontos no Ibope e a liderança eventual de audiência. Um CD da dupla, com o hit A Dança do ET, vendeu mais de 270 mil cópias.