O ex-governador Luiz Henrique morreu em 2015 e deixou grandes lições para quem gosta de política.
Ele mesmo se autodenominava um “animal político”. Vivia a política na sua plenitude.
Uma vez ouvi um discurso onde ele falava que em política os tolos olham para árvore e os inteligentes enxergam a floresta.
Também teve os seus erros, mas suas lições se seguidas facilitam muito a vida de quem quer chegar ao poder e muito mais ainda para exercê-lo.
Não teve dúvida quando precisou do apoio do PT para chegar ao Governo em 2002 e também não titubeou ao aliar-se ao PFL para sepultar as pretensões da família Amin em 2006, 2010 e 2014.
Jogava limpo, às claras e jogava muito bem esse jogo da política.
Do outro lado dessa montanha encontra-se o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés. Hoje, podemos dizer, um cadáver da política.
Ele pode virar esse jogo e ressuscitar?
Pode. A política, já dizia o mineiro Magalhães Pinto, é com nuvem. Você olha, ela está de um jeito e olha novamente ela já mudou.
Moisés vive em quarentena desde que assumiu.
Não deve ter feito mais que dez viagens pelo interior do Estado para conhecer a Santa Catarina que recebeu para administrar.
No começo da pandemia até tentou ser protagonista, mas sucumbiu aos interesses e pressões. Essa semana se superou com o decreto fechando o que já estava fechado.
Até o escândalo dos respiradores ele não existia para a política de Santa Catarina.
Estava na Agronômica tocando violão e assoviando e o Governo andava por si só.
As coisas até não iam tão mal, quando de repente, como num passe de mágica, sumiram R$ 33 milhões dos cofres públicos.
A política era feita por Douglas Borba que convocava prefeitos para o Centro Administrativo e prometia convênios em troca de filiação ao PSL. Conseguiu vários, que hoje tem vergonha de dizer a qual sigla pertencem.
Com o escândalo, os catarinenses ficaram sabendo que tínhamos um governador. Um governador que pode até ser bem intencionado, mas atrapalhado e fraco.
Se antes ele achava que poderia se comunicar com os catarinenses apenas através de redes sociais, com a pandemia começou a aparecer na imprensa tradicional com mais freqüência.
Enquanto pregava isolamento, não resistiu a tentação de ouvir Rick e Renner e foi dançar quadrilha num hotel em Gaspar.
Moisés foi eleito na onda Bolsonaro. Ele nunca existiu para esses eleitores. Era apenas o candidato do Bolsonaro. E hoje não é mais. Bolsonaro também perdeu apoiadores, mas resiste com um grupo muito aguerrido em defendê-lo. Moisés não tem ninguém.
Junto com ele foram eleitos seis deputados estaduais. Pertencem ao baixíssimo clero da Alesc, mas mesmo assim nenhum se senta a sua mesa.
A única voz a defendê-lo no parlamento é a deputada Paulinha (na foto com Moisés). E o curioso é que a única semelhança que os identifica parece ser o fato de ambos terem sido infectados pelo coronavírus.
Já que Moisés foi eleito numa onda de direita e se anuncia conservador. Paulinha é do PDT, um partido tradicionalmente do campo de esquerda na política brasileira.
Moisés pensou que seria governador sem política e sem os políticos.
Oh! Que dó. Para isso ele teria que ser muito trabalhador, muito competente e ter uma grande equipe. Tudo o que ele não é o que não tem.
Realizaria seu sonho de ter a população ao seu lado, sem os políticos. Só que não rolou.
A pandemia esvaziou os corredores da Alesc, mas mesmo assim é possível ouvir vozes clamando pelo seu impeachment.
É pelo bem de Santa Catarina dizem os defensores. Para tentar salvar o barco antes do naufrágio total.
Mas, segundo a Constituição Estadual, em seu artigo Art. 68. “Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período governamental, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pela Assembleia Legislativa, por maioria absoluta”.
Corrijam-me os causídicos se eu estiver equivocado.
Ou seja: a cassação de Moisés e sua vice, como se trabalha nos bastidores, não deve ocorrer esse ano porque teríamos eleição direta. Em janeiro, o próximo governador será escolhido pela Assembleia.
Até lá, se não virar o jogo, Moisés segue vagando pelos corredores do Palácio da Agronômica. E Daniela assistindo lives de Olavo de Carvalho na mansão de Itaguaçu.
Em tempo: o que pode causar o impeachment de Moisés e da vice Daniela não tem nada a ver com os respiradores. É o caso do aumento do salário dos procuradores sem passar pela Alesc, em 2019.
Em impeachment continua valendo a velha máxima: não é necessário crime, mas sim votos.
Por Frutuoso Oliveira