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Cientistas revelam planeta ‘parecido com a Terra’ orbitando estrela vizinha

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Uma equipe internacional de astrônomos anunciou nesta quarta-feira a descoberta de um exoplaneta possivelmente parecido com o nosso na órbita de Proxima Centauri, a estrela mais perto do Sistema Solar. Localizada a aproximadamente 4,22 anos-luz da Terra na direção da constelação de Centauro, ela é a menor e mais “isolada” do que é, na verdade, um trio de estrelas que compõe o sistema popularmente conhecido como Alfa Centauro e apontado como a estrela mais próxima do Sol.

Provisoriamente batizado como Proxima Centauri b — ou simplesmente Proxima b —, o também chamado planeta extrassolar (por orbitar uma estrela que não o Sol) tem uma massa estimada em no mínimo cerca de 1,3 vez a da Terra e completa um de seus “anos” a cada 11,2 dias, a uma média de 7,5 milhões de quilômetros de Proxima Centauri. E embora esta distância seja apenas 5% a da Terra ao Sol e bem menor até mesmo que Mercúrio fica de nossa estrela, ela também significa que Proxima b estaria dentro da chamada “zona habitável” de Proxima Centauri, muito menor e mais fria que o Sol, com menos de 1/600 do brilho de nossa estrela e tão tênue que não pode nem ser vista a olho nu. Nesta região do espaço em torno da estrela, o planeta não estaria nem perto nem longe demais dela, de forma que, teoricamente, sua temperatura permita que tenha água em estado líquido na superfície, condição essencial para o desenvolvimento de vida como conhecemos.

Tudo isso não quer dizer, no entanto, que Proxima b seja de fato habitável, e muito menos lar de alienígenas. À parte da massa mínima, período orbital e distância de sua estrela, tidos como praticamente certos pelos cientistas, todas as outras características e condições que fariam do exoplaneta parecido com a Terra — e por isso apto a desenvolver ou sustentar a vida — são, pelo menos por enquanto, só especulações, apesar de algumas delas serem bem prováveis. Não se sabe, por exemplo, qual o seu tamanho exato, e assim não é possível ter certeza que ele seja mesmo rochoso como nosso planeta, mas sua massa está dentro da faixa em que os planetas extrassolares descobertos até agora geralmente são rochosos.

Vizinho cósmico

Além disso, embora seja pequena, com apenas 0,12 vez a massa do Sol, Proxima Centauri é uma estrela do tipo anã vermelha extremamente instável, sujeita a flashes e erupções frequentes que banham o planeta com emissões de radiação, como raios-X e ultravioleta, centenas de vezes mais intensas do que as que o Sol lança sobre a Terra. Não se sabe também, porém, se Proxima b tem um poderoso campo magnético como o que protege a Terra do pior da radiação solar. Sem isso, não só os eventuais organismos nele sofreriam com a radiação como sua atmosfera, que também se desconhece que o exoplaneta tenha, seria “soprada” para longe pelas erupções de Proxima Centauri.

Mesmo assim, o anúncio da descoberta do novo planeta extrassolar deixou em polvorosa a comunidade científica, onde foi alvo de fortes rumores nas últimas semanas. E a principal razão disso é justamente sua proximidade. Ao contrário dos outros poucos exoplanetas possivelmente parecidos com a Terra e potencialmente habitáveis encontrados nos últimos anos, que estão entre algumas dezenas a até mais de mil anos-luz de distância, o Proxima b é, literalmente, nosso vizinho cósmico, perto o suficiente para ser alvo de missões robóticas com a tecnologia atual capazes de responder às dúvidas quanto a suas características, condições e própria habitabilidade num período inferior a uma vida humana média.

— É como se ela estivesse anunciando: sou a estrela mais próxima e tenho um planeta potencialmente habitável! — resumiu Paul Butler, pesquisador do Instituto Carnegie para Ciência, nos EUA, e um dos integrantes da equipe responsável pela descoberta, relatada em artigo publicado na edição desta semana da revista “Nature”.

Assim, embora o atual objeto mais veloz construído pela Humanidade, a sonda Voyager 1, fosse levar mais de 70 mil anos para chegar a Proxima Centauri (isso se estivesse voando em direção à estrela), já existem projetos que, hipoteticamente, poderiam cumprir a missão. O principal deles é conhecido como Breakthrough Starshot. Anunciado em abril último pelo famoso físico britânico Stephen Hawking em conjunto com o bilionário russo Yuri Milner — que patrocina a série das chamadas Iniciativas Breakthrough com o objetivo de procurar por vida inteligente fora da Terra —, o Starshot deverá receber US$ 100 milhões (cerca de R$ 320 milhões) nos próximos anos para desenvolver microssondas com tamanho e peso menores que os de um smartphone, apelidadas “starchips”, conectadas a “velas” reflexivas que seriam “infladas” por poderosos lasers instalados em solo. Com isso, hipoteticamente seria possível acelerar o conjunto a algo entre 15% e 20% da velocidade da luz, o que permitiria que as sondas alcançassem Proxima Centauri num prazo de 20 a 30 anos.

E, para os cientistas, este esforço não só é bem-vindo como necessário. Segundo eles, mesmo com tantos “poréns” e “senões” sobre a habitabilidade do planeta, esta seria uma forma de constatar suas condições, ainda mais diante da baixa probabilidade de fazer estes estudos com outros métodos. Isso porque, de acordo com os pesquisadores, há apenas 1,5% de chances de que Proxima b tenha um trânsito visível, isto é, passe em frente a sua estrela do ponto de vista da Terra. Se isso acontecesse, poderosos telescópios atualmente em construção, como o gigantesco E-ELT do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, e o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da Nasa e “sucessor” do Hubble, poderiam observar e analisar a composição de uma eventual atmosfera nele.

— É uma expectativa razoável que este planeta possa ser capaz de abrigar vida — defendeu Guillem Anglada-Escudé, astrônomo da Universidade Queen Mary de Londres e líder da equipe que fez a descoberta de Proxima b.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

– O que são planetas extrassolares?

– São planetas que orbitam estrelas que não o Sol. Até agora, os cientistas já confirmaram a existência de mais de 3.500 deles, com outros milhares ainda classificados como “candidatos” e aguardando confirmação. Mas apenas umas poucas dezenas destes exoplanetas, como também são conhecidos, estão na chamada “zona habitável” de suas estrelas, onde teoricamente estariam nem perto nem longe demais para que sua temperatura permita que tenham água líquida na superfície. E, destes poucos, menos de dez são pequenos e provavelmente rochosos como a Terra.

– Como os cientistas encontram estes planetas?

– A forma mais simples é observá-los diretamente, mas isso é muito difícil, já que planetas não têm brilho próprio e são facilmente ofuscados pelo clarão de suas estrelas. Assim, os astrônomos recorrem a métodos indiretos. Os mais usados são conhecidos como “de trânsito” e “de velocidade radial”. No primeiro, eles observam ínfimas e periódicas diminuições no brilho de uma estrela provocadas pela passagem de um planeta em frente a ela do ponto de vista da Terra, base da bem-sucedida missão do observatório espacial Kepler, da Nasa, que encontrou milhares de planetas assim. Já no segundo, os cientistas medem as ligeiras, e também periódicas, oscilações na posição da estrela causadas pelo “puxão” gravitacional de um planeta na sua órbita, o que faz com que pareçam estar se aproximando e se afastando de nós. E foi justamente com este método que eles detectaram o Proxima b, com ajuda de observações feitas com instrumento desenhado para isso, o HARPS, e instalado no telescópio de La Silla, do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.

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