O Ibama aplicou quatro infrações e multou em R$ 743,5 mil cada dois caçadores que mataram duas onças-pardas em Trombudo Central, no Alto Vale do Itajaí, e divulgaram o crime em vídeos nas redes sociais. A decisão foi na última sexta-feira e tem como base uma investigação inicial feita pela Polícia Civil de Trombudo Central.
Segundo o chefe de fiscalização do Ibama em Santa Catarina, Leonardo Tomaz, os dois caçadores foram enquadrados em quatro crimes: matar espécie silvestre ameaçada de extinção, utilizar de forma indevida a imagem dos animais expondo a crueldade do ato, utilizar de forma indevida licença de caça e deixar de protocolar com o Ibama semestralmente as atividades de caça.
O homem que aparece em destaque nas imagens, segundo Tomaz, tinha licença para controle de javalis na região. Com isso, ele tinha acesso a armas de fogo e permissão federal para caça. No entanto, ao usar isso para matar outros tipo de animal a licença foi desrespeitada.
— São animais raríssimos em Santa Catarina. Acreditamos que eles só conseguiram pegar esses animais pela prisão do filhote, o que deixa a mãe muito vulnerável. Com isso eles atacaram os dois com pedradas, pauladas e atiraram com arma de fogo. Além disso eles utilizaram cães na caça, o que é proibido — explica o chefe de fiscalização.
De acordo com o Ibama, os caçadores teriam alegado que o vídeo é de anos atrás. As imagens estão passando por perícia e os dois caçadores já foram identificados e autuados. O homem que tinha a licença já teve o documento cancelado e terá a arma de fogo recolhida.
Caça de javali é a única permitida no Brasil
A onça-parda, também conhecida como leão-baio ou puma, é um animal silvestre ameaçado de extinção e que tem a caça proibida. Atualmente, somente a caça de javalis é permitida no Brasil através de uma portaria do Ibama, desde que com uma série de regras e com a única razão de controle de danos à saúde pública. Tramita em nível federal um projeto de lei do deputado federal catarinense Valdir Colatto (MDB) que revoga a atual legislação e permite a caça de outras espécies. O assunto está na Câmara dos Deputados e gerou polêmica, inclusive com uma manifestação do Ministério Público.
Para a bióloga e pesquisadora Cíntia Gruemer, responsável por um projeto de monitoramento de pumas no Parque Nacional da Serra do Itajaí, a caça é o principal motivo para o número pequeno de animais da espécie em Santa Catarina. Na região do parque, que tem 56,9 mil hectares, a estimativa feita por Cíntia em 2010 apontava apenas quatro animais da espécie, um índice de 0,66 por quilômetro quadrado — o menor conhecido em áreas de Mata Atlântica no Brasil.
— A situação é gritante, estamos vivendo uma situação de possível lei da caça. Corremos o risco de ter uma floresta vazia, e uma floresta vazia não se sustenta, a interação da fauna e flora é fundamental — alerta a pesquisadora.
De acordo com o cabo Gioni Otte, da Polícia Militar Ambiental de Blumenau, o batalhão tem notado na área de atuação no Vale do Itajaí um aumento das ocorrências de caça. A principal preocupação é em relação à caça para comércio ilegal:
— Não fizemos ainda um estudo aprofundado, mas estamos visualizando que está aumentando. Acendeu um alerta — destaca.
Com informações Jornal de Santa Catarina