Search
Close this search box.

Ayrton Senna: 20 anos sem o campeão

Notícia Hoje

Notícia Hoje

As informações mais atualizadas de Santa Catarina, do Brasil e do Mundo!

Compartilhe

Eram 18h50 (horário da Itália, 13h50 em Brasília) quando os fãs do automobilismo mundial receberam uma notícia amarga e indesejada: Ayrton Senna da Silva morreu. Horas antes, o piloto brasileiro da equipe Williams se acidentara com gravidade na quinta volta do Grande Prêmio de San Marino, no Autódromo de Ímola. Senna liderava a prova, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos resultantes do violento choque a 200 km/h na Curva Tamburello.

Inconsciente, Senna foi socorrido por paramédicos ainda na pista, menos de dois minutos após o choque, e levado de helicóptero ao Hospital Maggiore, em Bolonha, onde foi atendido. Segundo boletim médico divulgado no local, o piloto brasileiro perdeu suas funções cerebrais às 18h03 (horário local, 13h03 em Brasília). Poucos minutos depois, o tricampeão mundial de Fórmula 1 foi declarado clinicamente morto.

O anúncio da morte foi feito pela médica Maria Teresa Fiandri, chefe de anestesia e reanimação do hospital. “Do ponto de vista cerebral, já não havia atividade após o acidente. Ele chegou ao hospital com o pulso fraco e a pressão baixa. A pressão foi se reestabelecendo, mas a atividade cerebral não se recuperou”, afirmou a médica.

O acidente fatal do brasileiro causou grande comoção no Circuito de Ímola, que havia presenciado um dia antes o óbito do austríaco Roland Ratzenberger, piloto da Simtek, nos treinos de classificação. Horas antes da largada, Senna foi apontado como um dos diretores da Associação de Pilotos de Grandes Prêmios (GPDA, em inglês). Ao lado de Michael Schumacher (Benetton) e Gerhard Berger (Ferrari), o brasileiro tinha a missão de buscar condições mais seguras de competição para os pilotos.

A iniciativa, no entanto, veio tarde demais. Em cinco voltas, a Fórmula 1 perdeu um de seus nomes mais respeitados.

20 anos depois, o aumento da segurança na Fórmula 1

Uma batida desperta coisas dentro da gente que normalmente não existem. É uma batalha interior, uma verdadeira guerra psicológica, uma situação que mexe com a razão da gente mesmo quando se quer controlar a cabeça e os instintos. Acidentes mostram como somos frágeis e um erro, um simples problema mecânico, pode nos deixar abalados mentalmente, fisicamente ou até nos tirar a vida. Essas palavras, tristemente proféticas, foram ditas por um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1, Ayrton Senna, que no dia 1.º de maio de 1994, em Ímola, tornou-se vítima de sua paixão pela velocidade. Os 20 anos que se passaram desde sua morte não foram suficientes para que Senna fosse esquecido. Muito pelo contrário. Seu legado faz parte da rotina da categoria, a começar por um aspecto vital: a segurança dos pilotos.

Basicamente, três áreas foram desenvolvidas depois do acidente do Senna: a segurança dos carros de competição propriamente ditos, o equipamento pessoal dos pilotos e a segurança das pistas, explica o médico Dino Altmann, há 24 anos na Fórmula 1 e um dos 16 especialistas da comissão médica da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

A tragédia que tirou a vida de Senna, causada por uma série de fatores (entre eles a quebra da barra de direção de sua Williams), serviu para apontar aos especialistas onde estavam as falhas e os riscos nos veículos e nas pistas. Tanto que ele foi o último piloto a morrer em uma corrida de F-1 (ocorreram posteriormente duas mortes, ambas de fiscais de pista).

Entre as inovações surgidas após a morte de Senna – e que poderiam ter salvado a sua vida se tivessem sido adotadas antes –, estão ideias simples como o Hans (suporte de cabeça e pescoço) e um sistema que impede as rodas de se soltarem.

Em função da consequência dos acidentes, existe uma proteção maior evitando aquele tipo de problema. Depois de 1994, o conceito passou a ser de dentro para fora, ou seja, do piloto para o exterior. O cockpit passou a ser o ponto mais estratégico, onde aumentou muito mais a resistência aos impactos laterais e frontais, conta Altmann.

A opinião é compartilhada por quem está dentro do cockpit. Para infelicidade dos brasileiros, o acidente mais grave sofrido por um piloto no período pós-Senna aconteceu justamente com um compatriota. Em 2009, Felipe Massa, na época defendendo a Ferrari, foi atingido na cabeça por uma peça que se soltou da Brawn de Rubens Barrichello. Mesmo assim, Felipe ressalta a mudança nas pistas e nos carros e festeja as condições de que dispõem os competidores agora. As condições de segurança dos carros melhoraram demais, com a incorporação de materiais mais resistentes e leves, como a fibra de carbono, afirma Massa. Tanto que ninguém mais morreu numa corrida de Fórmula 1. Na China, por exemplo, as áreas de escape são tão amplas que é praticamente impossível bater.

Com a morte do Ayrton, há uma nova preocupação em relação à segurança da Fórmula 1. Depois do acidente dele, tudo melhorou, desde o atendimento ao piloto até as equipes de resgate, confirma o bicampeão da categoria Emerson Fittipaldi. Hoje a Fórmula 1 é um esporte seguro, é só você ver o número de pilotos que se machucaram nos últimos 20 anos, afirma Altmann.

Valores

Evidentemente, Ayrton Senna deixou como herança muito mais do que apenas a preocupação com a segurança na Fórmula 1. O piloto ainda é lembrado com enorme idolatria. Dentro das pistas, é considerado um dos maiores de todos os tempos. Fora, está marcado como símbolo de perseverança.

Acho que são diferentes legados que o meu irmão deixou. Temos o óbvio, que são os resultados como esportista. Tem um segundo que diz respeito ao profissional que ele era, à forma como ele ganhava, mostrando que é possível ser um vencedor sem apelar para o jeitinho, para a trapaça. E um terceiro legado que seria o Instituto (Ayrton Senna), como forma de expressão desses valores, diz Viviane Senna, presidente da ONG que leva o nome do piloto.

Bruno Senna, filho de Viviane, também está convencido de que a mais importante contribuição do tio ao Brasil foi o instituto, que acumula prêmios por seu trabalho voltado à educação. Seu maior legado é o instituto, para levar adiante um grande sonho dele: dar oportunidade às crianças e jovens, afirma o jovem piloto, que também destaca as qualidades de Senna como esportista. Determinação, obstinação, perfeccionismo, senso de justiça e patriotismo fizeram do Ayrton alguém muito diferenciado num esporte em que a política sempre reinou.

As lições com a morte

A curva Tamburello, palco da trágica morte de Ayrton Senna há exatos 20 anos, tornou-se uma chicane em 1995, um ano depois do acidente com o piloto brasileiro na Fórmula 1. A medida da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) foi mesmo necessária. Naquele local, os pilotos Nelson Piquet, em 1987, e Gerhard Berger, dois anos depois, também sofreram graves acidentes e, por sorte, conseguiram se recuperar após as fortes batidas.

A segurança nas pistas foi apenas um dos pontos estratégicos colocados em prática pela FIA a fim de evitar novas tragédias na Fórmula 1. Ayrton Sennna foi o 24.º piloto morto em decorrência de um acidente na pista, seja em treinos ou provas. Desde então a principal categoria do automobilismo conseguiu pôr fim às tragédias – ocorreram posteriormente duas mortes, ambas de fiscais de pista. Maria de Villota, piloto de testes da Marussia, morreu 15 meses depois de sofrer um grave acidente durante um teste em linha reta no aeroporto de Duxford, na Inglaterra.

De 1974 a 1994, em 20 anos, oito pilotos morreram nas pistas. Outros 16 sofreram acidentes fatais nos primeiros 25 anos da Fórmula 1. A primeira morte deu-se em 1954, na quinta temporada. A vítima foi o argentino Onofre Marimón, nos treinos para o GP da Alemanha, em Nurburgring. O circuito alemão, nos anos seguintes, tornou-se o grande vilão da categoria. No local, o britânico Peter Collins morreu em 1958, assim como o holandês Carel Godin de Beaufort (1964), o inglês John Taylor (1966) e o alemão Gerhard Mitter (1969).

Já a corrida em Spa Francorchamps de 1960 foi marcada por duas mortes. Na ocasião, dois pilotos britânicos morreram. Chris Bristow perdeu o controle seu Cooper-Climax na 19.ª volta, na curva Burnenville. Na 24.ª, Alan Stacey, piloto da Lotus, acidentou-se após um pássaro acertar sua cabeça. Sem controle, o carro se chocou contra o muro.

No fatídico GP de Ímola, há 20 anos, o austríaco Roland Ratzenberger também morreu na pista. O acidente com o piloto ocorreu durante o treino classificatório, no dia 30 de abril. Após a morte, Senna chegou a abandonar a sessão para discutir com os fiscais sobre como aprimorar a segurança do circuito.

A segurança dos carros de competição e o equipamento pessoal dos pilotos também ajudaram para que as mortes deixassem de ocorrer. Entre as inovações surgidas após a morte de Senna, por exemplo, estão ideias simples como o Hans (suporte de cabeça e pescoço) e um sistema que impede as rodas de se soltarem.

Acidentes fatais até 94

1954

Onofre Marimón (Argentina) – Treinos para o GP da Alemanha, em Nurburgring

1958

Luigi Musso (Itália) – GP da França de 1958, em Reims

Peter Collins (Grã-Bretanha) – GP da Alemanha, em Nurburgring

Stuart Lewis-Evans (Grã-Bretanha) – GP do Marrocos, em Ain-Diab

1960

Alan Stacey (Grã-Bretanha) – GP da Bélgica, em Spa Francorchamps

Chris Bristow (Grã-Bretanha) – GP da Bélgica, em Spa Francorchamps

1961

Wolfgang Von Trips (Alemanha) – GP da Itália, em Monza

1964

Carel Godin de Beaufort (Holanda) – Treinos para o GP da Alemanha, em Nurburgring

1966

John Taylor (Grã-Bretanha) – GP da Alemanha, em Nurburgring

1967

Lorenzo Bandini (Itália) – GP de Mônaco, em Monte Carlos

1968

Jo Schlesser (França) – GP da França, em Rouen

1969

Gerhard Mitter (Alemanha) – Treinos para o GP da Alemanha, em Nurburgring

1970

Piers Courage (Grã-Bretanha) – GP da Holanda, em Zandvoort

Jochen Rindt (Áustria) – GP da Itália, em Monza

1973

Roger Williamson (Grã-Bretanha) – GP da Holanda, em Zandvoort

François Cevert (França) – Treinos para o GP dos EUA, em Watkins Glen

1974

Helmuth Koinigg (Áustria) – GP dos EUA, em Watkins Glen

Mark Donohue (EUA) – Treinos para o GP da Áustria, em A1-Ring

1977

Tom Pryce (Grã-Bretanha) – GP da África do Sul, em Kyalami

1978

Ronnie Peterson (Suécia) – GP da Itália, em Monza

1982

Gilles Villeneuve (Canadá) – Treinos para o GP da Bélgica, em Zolder

Ricardo Paletti (Itália) – GP do Canadá, em Montreal

1994

Roland Ratzenberger (Áustria) – Treinos para o de San Marino, em Ímola

Ayrton Senna (Brasil) – GP de San Marino, em Ímola

Frases de Senna

Talento dentro das pistas é certamente o principal motivo pelo qual Ayrton Senna é idolatrado pelo público brasileiro. No entanto, as pole positions, vitórias e momentos épicos não cativaram a população nacional sozinhos. A figura do piloto se popularizou muito por conta do seu carisma e de frases bem colocadas, que inspiraram o povo do Brasil. Veja abaixo dez das declarações mais importantes da carreira de Ayrton Senna:

Quero ganhar sempre. Essa história de que o importante é competir não passa de demagogia, setembro de 1985.

O Piquet carrega as cores do Brasil, mas não vive o Brasil. Ele vive outro mundo, a Europa, mais do que o Brasil. Para ser honesto, o Piquet é uma pessoa que tem grandes qualidades, mas talvez tenha alguns problemas de infância e alguns problemas com a imprensa que existiram uns anos atrás que marcaram muito e automaticamente tiraram um pouco o amor dele pelos brasileiros e pelas coisas aqui do Brasil. E ele se identificou principalmente com os italianos. Ele é um cara revoltado, uma pessoa inconstante, é uma coisa notória. Isso dificulta muito no relacionamento com as pessoas, sobre Nelson Piquet em entrevista ao programa Roda Viva, em 1986.

Não sei dirigir de outra maneira que não seja arriscada. Quando tiver de ultrapassar vou ultrapassar mesmo. Cada piloto tem o seu limite. O meu é um pouco acima do dos outros, janeiro de 1989.

No Grande Prêmio do Japão, em 1988, eu estava superconcentrado, me preparando para uma curva longa, quando vi a imagem de Jesus. Era tão grande. Ele estava suspenso, com a roupa de sempre, a cor de sempre, e uma luz em volta. Seu corpo inteirinho subia para o céu, ocupando todo o espaço. Ao mesmo tempo em que tinha essa imagem incrível, eu guiava um carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com tudo. É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer., agosto de 1990.

Medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras – acho que estou entre elas – aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação, junho de 1991.

Acidentes são inesperados e indesejados, mas fazem parte da vida. No momento em que você se senta num carro de corrida e está competindo para vencer, o segundo ou o terceiro lugar não satisfazem. Ou você se compromete com o objetivo da vitória ou não. Isso que dizer: ou você corre ou não, agosto de 1991.

Eu sou feliz. Serei plenamente feliz, talvez, se chegar com sabedoria aos 60 anos. De qualquer forma, ainda tenho muita vida pela frente, outubro de 1991.

Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá, em entrevista a João Dória Júnior em 1994, na casa recém-comprada de Angra dos Reis.

Carreira de Senna

Veja, a seguir, alguns dos principais momentos da carreira do brasileiro:

– Ayrton Senna da Silva nasceu em São Paulo, em 21 de março de 1960. Começou no kart e depois se transferiu para a Europa, onde foi campeão da Fórmula 3 inglesa em 1983, com nove vitórias seguidas e 12 no total. Venceu também o Grande Prêmio de Macau da F3.

– Após testes com Williams, McLaren, Brabham e Toleman, Senna assinou com esta última, estreando na categoria em março de 1984, no Brasil. Seu primeiro pódio veio em junho daquele ano, em Mônaco, quando ele começou em 13º lugar e chegou em segundo, numa prova abreviada pela chuva.

– Transferiu-se para a Lotus em 1985 e comemorou sua primeira vitória em abril, em Portugal. Conseguiu sete pole positions naquele ano, e também venceu na Bélgica.

– Em 1987, conquistou a primeira das suas seis vitórias em Mônaco, um recorde que permanece. Foram cinco vitórias consecutivas entre 1989 e 1993.

– Transferiu-se para a McLaren na temporada de 1988, para correr ao lado do bicampeão Alain Prost, francês. Nos cinco anos seguintes, eles travariam uma das mais acirradas disputas na história da categoria.

– Senna conquistou seu primeiro título em 1988, vencendo oito provas, contra sete de Prost, numa temporada com domínio absoluto da McLaren. Prost teve mais pontos, mas o regulamento da época previa que apenas os 11 melhores resultados seriam computados.

– Em 1989, a rivalidade atingiu um ponto de ebulição. Prost ficou com o título depois de uma colisão com Senna na penúltima curva da temporada, no Japão. Senna precisava vencer em Suzuka, e de fato se recuperou do acidente e cruzou a linha de chegada em primeiro, mas foi desclassificado numa decisão polêmica dos comissários. Recebeu uma multa, teve sua superlicença suspensa e cogitou deixar as pistas.

– Em 1990, Prost foi para a Ferrari, e Senna ganhou um novo colega de equipe, o austríaco Gerhard Berger. Conquistou seu segundo título após novo choque com Prost em Suzuka. Deixou claro assim, um ano depois, que estava dando o troco pelo título perdido em 1989.

– Em 1991, tornou-se o mais jovem tricampeão da Fórmula 1, aos 31 anos. O britânico Nigel Mansell, da Williams, foi seu maior rival naquele ano.

– Uma das vitórias mais expressivas de Senna aconteceu em 1993, seu último ano na McLaren, na pista molhada de Donington Park (Grã-Bretanha). Ele largou em quinto, mas assumiu a liderança já na primeira volta e terminou a prova com uma volta à frente de todos os competidores, exceto o segundo colocado, Damon Hill.

– Transferiu-se para a Williams em 1994. Largou na pole position nas duas primeiras provas, mas não chegou a pontuar. O GP de San Marino, em que também foi pole position, era o terceiro da temporada.

– Sua carreira inclui 161 corridas, com 65 poles, 19 voltas mais rápidas e 41 vitórias.

Homenagens nos 20 anos da morte

Flores, lágrimas e emoção. No dia em que a morte de Ayrton Senna completa 20 anos, as homenagens ao piloto brasileiro percorrem todo o mundo. Em Ímola, na Itália, os fãs visitaram a exposição montada em tributo ao corredor. Estão expostos objetos pessoais usados durante a carreira de Senna e fotos do esportista que virou uma espécie de herói nacional. Foi no GP de Ímola, que ele bateu sua Williams e morreu na pista.

No Brasil, o cemitério do Morumby recebe muitas visitas desde o início da semana. São pessoas comuns que têm Senna ainda no coração. Sem nenhum evento oficial programado para o dia, o destino dos fãs é a sepultura do piloto brasileiro. Declaradamente corintiano, Senna também foi homenageado pela torcida e pelo clube durante a partida pela Copa do Brasil contra o Nacional-AM, quarta-feira.

Com informações: Terra, Estadão, Uol, OBC

Ayrton Senna: 20 anos sem o campeão

Receba notícias, diariamente.

Salve nosso número e mande um OK.

Ao entrar você está ciente e de acordo com todos os termos de uso e privacidade do WhatsApp