Olá leitores da minha coluna de comportamento. Estive afastada do Portal esse ano de 2017 por motivos pessoais. E também porque estou com um bebê de dois meses em casa. Passei um ano com outras prioridades. Estou retornando com novidades e matérias exclusivas. Informo também que retornei minhas atividades como psicóloga semana passada, e interessados podem entrar em contato pelo watts 9 88767887 ou pelo email [email protected]
O tema escolhido é bem pertinente ao meu dia a dia em casa como mãe, tenho uma filha de 3 anos e meio e que (LITERALMENTE NÃO SABE ESPERAR), está cada dia mais difícil, as coisas precisam ser no momento e na hora que ela quer, independente do que eu esteja fazendo. Caso eu não “faça” o que ela me “mandou” fica emburrada e vai para o seu quarto, evitando qualquer contato físico ou verbal.
Comecei fazer algumas leituras, textos, artigos e reuni alguma coisa e decidi compartilhar com vocês. Sabe aquela clássica cena da família jantando no restaurante enquanto a única criança da mesa está completamente alheia à conversa, hipnotizada por algum desenho no celular? Ou então aquela de uma mãe morrendo de vergonha e colocando qualquer coisa no carrinho, só para o filho parar de espernear no meio do supermercado e ir logo para casa? Pois é, elas acontecem – e muito!
Fazer birra é um comportamento normal das crianças, afinal, faz parte da infância testar os limites. A questão é que, com a tecnologia cada vez mais ao alcance das (pequeninas) mãos, a paciência está virando artigo de luxo.
“Vivemos num contexto em que tudo se resolve muito rapidamente com apenas um clique. Os avanços tecnológicos fazem com que as crianças cresçam num mundo em que as coisas acontecem na hora em que elas querem. Não precisam nem esperar o desenho preferido na TV, já que assistem quando têm vontade e na plataforma que preferem”, explica Roberta Bento, especialista em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro pela Universidade da Califórnia e Duke University; e em aprendizagem cooperativa pelas Universidades de Minnesota e de San Diego.
A constante exposição das crianças aos jogos e aplicativos também tem sua grande dose de responsabilidade nos processos ansiosos, uma vez que a resposta nesses brinquedos é sempre imediata: o simples deslizar de um dedo realiza tudo em segundos, um mínimo toque e voilá, a boneca está vestida, o paciente operado, o caminhão montado, a torta assada e fumegante. Diminuam o contato das crianças com os jogos eletrônicos, e, sempre que o permitirem, os acompanhem por pelo menos um tempo e apontem sempre que possível as diferenças do jogo para a vida real. A consciência das crianças precisa de muitas confirmações, é preciso repetir as sentenças mais importantes até que elas as absorvam.
A gente precisa pensar mais nisso. E mudar nosso próprio jeito diante de uma contrariedade, um empecilho, dificuldade ou demora, afinal, as crianças se espelham em nós. Precisamos parar de nos sobressaltar a qualquer pretexto, pular e gritar quando uma criança cai ou engasga, correr para acudir o bebê no berço ao primeiro sinal de choro. Respire. Dê o tempo, olhe a situação. Os décimos de segundo que você ganha se sobressaltando, perde em dobro se atrapalhando em ansiedade e acalmando a criança que muitas vezes chora de susto pelo sobressalto da mãe, e não pela queda ou dodói.
Além da questão tecnológica, a formação das famílias atuais também influencia nessa pressa que os pequenos têm para serem atendidos. “Antigamente, tinha-se mais filhos e até nas refeições era preciso esperar a sua vez de ser servido. Hoje, é cada vez mais comum que os casais tenham só uma criança, que sempre tem tudo na hora que quer”, lembra a especialista, que completa: “elas vivem num mundo que parece ser totalmente adaptado e pronto para os seus desejos”.
Ouvi uma vez de um médico homeopata: “O contrário de felicidade não é a tristeza, é a ansiedade”. Desde então matuto nessa frase todo dia: e não é que ele tem razão?
A ansiedade é o mal do século. E nossas crianças já estão padecendo disso há muito tempo. Costumo dizer que “no meu tempo” as crianças tinham dificuldade de ouvir “não”. Hoje, não conseguem ouvir “daqui a pouco”. E a coisa tende a piorar: cada vez mais cedo identificamos sintomas de ansiedade, dificuldade de esperar, perda de paciência pra executar uma função mais trabalhosa e muita irritabilidade.
Como ensinar os filhos a esperar
Não adianta, não tem cartilha ou fórmula mágica para criar filhos mais pacientes – esse é um exercício diário, que deve ser trabalhado naquelas pequenas situações do cotidiano.
Um jeito legal de ajudar as crianças a lidarem com o tempo e os processos é plantar coisas com elas: feijão no algodão, cebola a partir do bulbo, qualquer semente dessas de saquinho que se vende em pet shops e lojas de jardinagem. Contem os dias juntos, façam um quadro com a evolução da plantinha dia a dia e atualizem toda manhã, juntos.
Conversem sobre o tempo que demorou pra brotar, sobre o número de folhas que nasceu, pesquisem juntos sobre o tempo que demora para uma planta se tornar adulta, sobre o tempo de gestação dos bichos, sobre cada etapa de todos os processos. Tornem isso divertido.
Esperar pode ser um barato.
Por exemplo, ao invés de aproveitar enquanto as crianças estão na escola para ir ao supermercado, vá com elas fazer as compras e explique o que vocês estão fazendo. “Na sala de espera de um consultório médico, invente alguma brincadeira para passar o tempo, que não envolva um celular. Brinque de procurar letras, de encontrar objetos de determinada cor Aproveite para conversar com seu filho”, aconselha Roberta.
E não custa lembrar: o comportamento da criança na rua, na escola, nos restaurantes e em todos os outros ambientes que ela frequenta é apenas um reflexo de como ela vive em casa e, claro, de como os pais se comportam. Portanto, não adianta esperar que seu filho saiba esperar se, em casa, ele tem tudo quando deseja e se vê os adultos na maior correria a todo momento. Além disso, é preciso ter consciência de que a paciência precisa ser ensinada. “Essa não é mais uma competência que se desenvolve sozinha e não é interessante que os pais pensem que, dado o contexto atual, ela é desnecessária, já que tudo acontece muito rápido. É preciso que eles se empenhem dia a dia”, ressalta a especialista.
Por que eles precisam ter paciência
Uma criança que é ensinada a esperar se torna uma pessoa mais educada, pois ao entender que o mundo não gira ao seu redor, ela cresce menos egocêntrica e vive melhor em sociedade.
Ela aprende, por exemplo, que é preciso deixar as pessoas saírem do metrô antes de entrar e que as coisas passam por um processo antes de acontecer – a comida não fica pronta por mágica e não chegamos à praia de uma hora para outra. Tudo leva tempo e é preciso saber lidar com isso.
Criar filhos menos ansiosos também ajuda no aprendizado, já que eles conseguem parar para ouvir e, então, formular argumentos. “Os pequenos mais pacientes também conversam melhor, já que conseguem esperar o tempo de fala do outro para poder responder – e estabelecer essa linha de raciocínio demanda muita paciência. Além disso, a criança aprende a considerar o outro e, assim, a respeitar as diferenças”, destaca Roberta.
A importância do tédio
Natação, inglês, judô, futebol, balé A agenda dos pequenos parece estar cada vez mais cheia de atividades e o tempo livre – aquela famosa horinha de não fazer nada – está ficando raro. “Nós percebemos uma angústia dos pais em nunca deixar as crianças entediadas, mas a verdade é que elas precisam lidar com isso. Vivenciar o tédio é bom porque ele gera a necessidade da criatividade para fazer alguma coisa interessante, além de possibilitar um descanso ao cérebro”, finaliza Roberta. Portanto, chegar a um equilíbrio é fundamental e trabalhar a ansiedade aos poucos dentro de casa é um caminho para criar filhos mais pacientes e preparados para viver bem em sociedade.
Um forte abraço
Francielle Marin Menzel
CRP12/12973
Fonte:
http://www.resilienciamag.com/ansiedade-infantil-por-que-precisamos-ensinar-as-criancas-esperar/