“Eu moro em Caçador faz 50 anos e desde aquela época tinha mais de 80 mil habitantes”. “Ninguém do IBGE passou em minha casa para saber quantas pessoas têm lá”. “Caçador tem mais de 80 mil habitantes, tenho certeza”.
Estas expressões são algumas, das várias, utilizadas pelos caçadorenses para exprimir a sua angústia de que a cidade, que tem mais de 85 anos, é mais populosa do que a apresentada, ano a ano, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em época de redes sociais, principalmente o Facebook, as maiores reclamações se concentram ali. A principal é baseada no fato de que ninguém (e ninguém mesmo) foi ouvido nesta última apresentação de dados por parte do IBGE, que foi divulgada nesta quarta-feira, 28.
Mas, neste caso, o motivo de ninguém ter sido ouvido é evidente: não se trata de um recenseamento (feito, por via de regra, a cada 10 anos pelo IBGE, onde há visitas, em todas as residências, para realizar o censo demográfico, que inclui ainda mais diversas perguntas, além, claro, da quantidade de pessoas por residência), mas sim, de uma estimativa populacional.
Tá, mas como é feito isso, então? “O IBGE divulga as estimativas de população estaduais e municipais desde 1975. A partir de 1992, passou a publicá-las no Diário Oficial da União, em cumprimento ao Art. 102 da Lei n. 8.443, de 16.07.1992, para os fins previstos no Inciso VI do Art. 1o da referida lei. As estimativas de população publicadas anualmente são calculadas aplicando-se o método matemático desenvolvido, em 1972, por João Lira Madeira e Celso Cardoso da Silva Simões, denominado AiBi. Esse método utiliza como insumos básicos as populações obtidas das Projeções da População para o Brasil e as Unidades da Federação mais recentes, bem como o crescimento populacional de cada Município na última década, delineado pelas respectivas populações recenseadas nos dois últimos Censos Demográficos realizados. Essas populações recenseadas, que servem de base para o cálculo da tendência de crescimento populacional dos Municípios, podem ser ajustadas em consonância com os ajustes da população adotados nas Projeções da População para o Brasil e as Unidades da Federação”, diz a explicação, no site do IBGE.
Apesar de uma explicação longa, em resumo, o que o IBGE faz é o seguinte: através de uma fórmula matemática, que agrega a projeção da população dos estados e o crescimento observado pelos Censos (2000 e 2010), se “estima” quanto a população cresceu em um ano. Este crescimento é adicionado à quantidade da população do ano anterior e, então, se tem a estimativa daquele ano.
Dados de Caçador
Para explicar melhor, vamos aos dados apresentados pelo IBGE quanto aos censos e uma contagem da população, que aconteceu em 2007 (contagem é quando o recenseador passa de casa em casa apenas pedindo quantas pessoas moram ali e só aconteceu em 2007, portanto, há 12 anos).
Em 2000, no Censo, Caçador tinha, de acordo com o IBGE, 63.322, enquanto Santa Catarina tinha uma população de 5.356.360. Portanto, segundo os dados oficiais, Caçador não tem 80 mil habitantes desde o ano 2000, como argumentam alguns, claro, sem terem feito qualquer contagem, mas baseando-se apenas no “achismo”.
Já na contagem, de 2007, Caçador passou para 67.556 habitantes e, Santa Catarina, 5.866.487.
Em 2010, no último censo realizado, a população registrada em Caçador era de 70.506 e, de Santa Catarina, 6.249.682.
De lá para cá, foram feitas apenas as estimativas, culminando, então, nos dados apresentados agora em 2019, quando se apontou que Caçador ficou com 78.595 habitantes, enquanto, em Santa Catarina, são 7.176.876.
Há um problema em 2007?
Só que, até por um lado embasando os questionamentos dos caçadorenses, há um certo recuo maior do que o “normal”, por assim dizer, na contagem populacional, realizada em 2007. Neste ano, os recenseadores passaram, de casa em casa, com tablets na mão, ação inédita do IBGE no Brasil para diminuir possíveis falhas.
Depois de Caçador ter chego, de acordo com as estimativas, a 72.606 habitantes, em 2006, no ano seguinte, apresentou 67.556, um recuo expressivo de quase 7%. Apenas como comparação e sem base estatística ou científica, Santa Catarina tinha, em 2006, 5.958.266 habitantes e, em 2007, diminuiu apenas 1,54%, ficando com 5.866.487 habitantes.
Depois, em 2010, um novo recuo, já no Censo: de 70.720 habitantes pela estimativa, em 2009, Caçador diminuiu para 70.506. Santa Catarina, por sua vez, aumentou a população: passou de 6.118.743, em 2009, para 6.249.682, em 2010.
Se a contagem da população de Caçador, em 2007, por exemplo, tivesse acompanhado os números de Santa Catarina e diminuído apenas 1,54%, seriam 71.487 habitantes.
Por outro lado, utilizando este mesmo número de habitantes, de 2007, e aumentando os 2,13% de crescimento de Santa Catarina, em 2010, Caçador teria, naquele ano, 73.009 habitantes.
Agora, preste atenção: sem incorporar uma teoria da conspiração, e claro, sem dados estatísticos de campo ou científicos, baseado apenas nas informações prestadas pelo próprio IBGE, Caçador já deveria mesmo ter mais de 80 mil habitantes.
Se tão somente a contagem e o Censo populacional tivessem apenas acompanhado os de Santa Catarina, a população de Caçador seria, em 2019, de 84.506 habitantes.
Com isso, Caçador poderia receber mais recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que são pagos mensalmente, entrando na faixa do coeficiente 2,8, ante o atual 2,4.
Ainda não há informações oficiais se o IBGE irá abrir prazo formal para as contestações, por parte das prefeituras, dos números apresentados em 2019.
Confira os dados históricos, de Caçador, desde 2000
2000 – 63.322
2001 – 64.710
2002 – 65.965
2003 – 67.192
2004 – 69767
2005 – 71.192
2006 – 72.606
2007 – 67.556 – Contagem
2008 – 70.088
2009 – 70.720
2010 – 70.506 – Censo
2011 – 71.333
2012 – 71.886
2013 – 74.276
2014 – 75.048
2015 – 75.812
2016 – 76.571
2017 – 77.323
2018 – 77.863
2019 – 78.595