As medidas, impopulares e doloridas do governador Carlos Moisés, mantendo o isolamento social por mais 7 dias em Santa Catarina têm um único e lógico motivo: A Saúde pública não está preparada para a epidemia de Coronavírus.
E não pense, caro leitor, que é apenas a Saúde de Santa Catarina. A do Brasil também não está preparada e, se analisar pelas declarações do presidente Donald Trump neste domingo, 29, e do governador de Nova York, Andrew Cuomo, a dos EUA também não.
São necessários respiradores em uma quantidade incalculável e que não estão disponíveis no mercado. As empresas fabricantes destes equipamentos não estavam preparadas para a demanda que surgiu em menos de 3 meses.
No Brasil, para se ter uma ideia, doenças respiratórias afetam 44% das pessoas, sendo que 65% estão apenas na região Sul, onde se encontra Santa Catarina. Uma delas, a asma, é a quarta causa de internação no SUS.
Estes dados dão a entender a preocupação com a situação: pacientes com histórico de doenças respiratórias estão bem mais propensos a serem acometidos pelo Coronavírus e morrerem. Simples assim. Se for idoso, o quadro é pior ainda.
Em Santa Catarina, 15,09% dos habitantes têm mais de 60 anos. No Brasil, são mais de 30 milhões entre os 211 milhões habitantes do Brasil
E aí é que entra a preocupação: com poucos leitos de UTI e de respiradores nos hospitais, o caos estaria implantado e as mortes ocorreriam em massa, assim como em países, como a Itália, onde estão morrendo mais de 900 pessoas por dia.
Dados apresentados pela NSC apontam que, se 10% da população fosse contaminada, 716.478 catarinenses estariam com a doença. É como se praticamente toda a população de Florianópolis e São José adoecesse.
Desse total, a estimativa dos especialistas, considerando os dados mundiais, é que entre 1% e 5% necessitem de cuidados de terapia intensiva nos hospitais. Em números, entre 7 mil e 35 mil moradores de Santa Catarina poderiam precisar de vaga em UTI.
O Governo do Estado divulgou que SC tem 800 leitos credenciados de UTI, somando as redes pública e privada. Há previsão de abrir mais 700 leitos nos próximos 30 dias, o que somará 1,5 mil leitos. Ainda assim, é menos de um quarto do que pode ser necessário.
O próprio governador admitiu isso: “a retomada gradual de alguns serviços não essenciais depende da preparação do sistema de saúde para a crise do coronavírus. Essa organização está condicionada à chegada de recursos e EPIs por parte do governo federal, além de equipamentos para leitos de UTI que foram comprados pela Secretaria de Estado da Saúde”, afirmou, neste domingo.
“Todas essas questões nos levam a uma posição muito tranquila de que temos que aguardar um pouco mais para colocar em ação o nosso plano de retomada das atividades econômicas. Precisamos estruturar melhor a nossa rede para que não tenhamos o risco de uma sobrecarga do sistema enquanto os equipamentos ainda estão chegando”, afirmou.
O governador fez ainda uma fala forte em relação à prioridade na preservação da vida em Santa Catarina durante o combate à pandemia da Covid-19.
“Essa decisão está tomada, no sentido de colocar a vida em primeiro lugar em Santa Catarina. Haverá efeitos econômicos muito grandes? Sim, mas o Estado não pode se omitir em um momento como esse. É necessário um esforço extra de cada um para que possamos superar essas dificuldades. Precisamos da união de todos os entes públicos e contamos com o apoio dos prefeitos nesse momento”, disse o governador aos prefeitos.
O Coronavírus é muito mais grave do que está sendo apresentado, inclusive pelo próprio presidente da república, Jair Bolsonaro. Aliás, ele foi contrariado pelo seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Nós precisamos ter racionalidade e não nos mover por impulso neste momento. Nós vamos nos mover, como eu disse desde o princípio, pela ciência e pela parte técnica, com planejamento. Pensando em todos os cenários quando a gente fala de colapso, de sobrecarga, ou de sobreuso no sistema, a gente tá falando disso. Não só de sobrecarga na saúde, mas, por exemplo, na logística.”
O ministro da saúde enfatizou que o desafio do novo coronavírus é inédito no mundo. E que a doença ataca a saúde, a economia e a sociedade como um todo. E que por esse motivo exige toda a cautela:
“E aí eu volto a repetir: muitas vezes… Hoje está cheio de professor de epidemiologia, cheio de fazedores de conta, de cálculos. Preste atenção: essa epidemia é totalmente diferente da H1N1.”
“Não há receita de bolo. Quem raciocinar pensando: nesta aqui foi assim, vai errar feio. Essa não é assim. Essa causou não uma letalidade pro indivíduo, não é esse o nosso problema. Nem daqueles que falam assim: ah essa doença vai matar só 5 mil, só 10 mil. Não é essa a conta”, ele disse.
“A conta é: esse vírus ele ataca o sistema de saúde e ataca o sistema da sociedade como um todo. Ele ataca logística, ele ataca educação, ele ataca economia, ele ataca uma série de estruturas no mundo.”
O ministro da saúde disse que tudo precisa ser articulado, num acordo nacional entre prefeitos, governadores e governo federal.
O ministro disse que os governadores devem seguir os parâmetros que adotaram até aqui:
“Agora não é hora de sobrecarregar o sistema de saúde seja em nome do que for. Agora é hora de aguardar, vamos ver como essa semana vai se comportar, e nós vamos ter nessa semana a discussão dentro da Saúde para achar os parâmetros, aqueles que tomaram medidas de acordo com a sua localidade sem o parâmetro, usou o parâmetro próprio, utiliza o seu parâmetro que nós vamos construir um consenso para nós podermos andar.”
Mandetta explicou por que o comércio não pode reabrir e também por que os jovens têm de ficar em casa, apesar de terem apenas sintomas leves em sua maioria:
“Por que se suspendem aulas? Se todas as crianças e jovens, como vocês viram, se têm a doença e são assintomáticos e são sintomas leves, por que a gente os tira da aula? Muitas vezes é o que fala: ‘Deixa as crianças e adolescentes’. É porque eles são assintomáticos e não sabem, só transmitem. Como voltam para casa e casa tem cômodo, temos déficit habitacional enorme, pode contaminar cinco, seis pessoas. Quando a gente diminui a mobilidade, cada um positivo contamina dois. Quando deixa todo mundo andando, cada um contamina seis, e isso faz progressão geométrica, faz essa curva super rápida.”
O que Santa Catarina determinou, de se ampliar em mais 7 dias (chegando a 21) a quarentena, é uma alternativa de acordo com as determinações da Organização Mundial da Saúde e evitará que, em breve, seja necessário paralisar por 30 ou 60 dias toda a circulação de pessoas.