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“Criança não namora” é tema de campanha contra a sexualização infantil

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É só a criança começar a frequentar a escolinha que aparece alguém para perguntar: “E os namoradinhos(as)?“. Geralmente, a pergunta é feita para crianças que sequer entendem o significado de namoro. Mas uma campanha amazonense está lutando contra o fim da erotização infantil ao lembrar que criança não namora nem de brincadeira.

Tudo começou com uma publicação da Secretaria de Assistência Social do Estado do Amazonas através do Facebook, feita em parceria com o blog Quartinho da Dany, criado pela professora Dany Santos. Desde 2008, o blog fala sobre assuntos como proteção à infância, maternidade, e erotização precoce das crianças. No início deste mês, a publicação sobre o tema gerou uma repercussão inesperada nas redes sociais, sendo compartilhada por quase 500 mil pessoas.

“A amizade é a relação que existe entre as crianças. Criar ou até mesmo incentivar relações de namoro na infância, são formas de adultizar e estimular a erotização precoce. A criança tem o direito de ser criança. A infância precisa de proteção.“, diz a publicação. Com o sucesso da iniciativa, novas publicações foram feitas para divulgar a campanha.

A ideia é mostrar aos pais, familiares e à comunidade escolar que essa brincadeira pode ser prejudicial aos pequenos. Além de estimular o início da sexualidade, pode levar as crianças a confundir seus sentimentos e relacionamento com os amiguinhos, podendo gerar traumas e até dificuldades de se relacionar no futuro. Em casos mais extremos, a prática poderia abrir as portas até mesmo para a ação de pedófilos, sugere Dany.

De acordo com o depoimento do psicólogo Luiz Coderch ao HuffPost Brasil, a ideia de namoro pode causar confusão nas crianças que estão entrando em fase escolar, geralmente entre os cinco e nove anos. Nessa fase, eles estariam ainda aprendendo o que é a amizade – e pular essa etapa poderia dificultar a aprendizagem de lições importantes na construção de relacionamentos saudáveis no futuro, como respeito ao próximo, carinho, atenção e companheirismo.

Criança brinca de namorar

A educadora sexual afirma que a criança pode, sim, brincar de namorar, mas que é tão somente a imitação de um papel como qualquer outro, como brincar de professor ou de casinha. Não se trata de reprimir o filho que chegar em casa falando que tem um namorado, segundo a psicodramatista e terapeuta de família Miriam Barros.

“Basta conversar. Pergunte como é esse namoro. Os pais devem ouvir e pontuar com frases como `ah, você gosta de brincar com tal pessoa’, ‘é um amigo, não namorado. Só adultos namoram’, explica Miriam.

A terapeuta de família fala que, mesmo que façam como uma brincadeira, os adultos que perguntam à criança quem é o namorado dela fazem com que ela desloque seu interesse para coisas que não combinam com a infância.

“O resultado aparece em meninas de nove anos preocupadas com aparência. Em crianças que não querem mais brincar”, afirma Miriam.

Vulnerabilidade

De acordo com a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em desenvolvimento infantil, ao tratar como natural o namoro entre crianças, os pais tornam o filho vulnerável ao crime de abuso sexual.

“A criança que cresce sabendo que namoro é coisa de adulto, que carinhos como beijo na boca só acontecem entre adultos, tem mais condição de estranhar contatos físicos indevidos. Ela é mais capaz de reconhecer o abuso como violência”, diz Deborah.

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