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Falso padre reza missas e toma confissões de fiéis

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Na noite de Natal e na manhã seguinte, os fiéis católicos do Balneário Presidente, em Imbé, no Litoral Norte, testemunharam duas das missas mais memoráveis já vistas na Capela Santo Antônio de Pádua. Mas, na verdade, haviam caído em um legítimo conto do vigário: o padre responsável por conduzir as celebrações e tomar a confissão de vários fiéis não era um sacerdote de verdade, mas um jovem de 18 anos que se fez passar por religioso e desapareceu quando começaram a suspeitar dele.

Uma ocorrência de falsa identidade foi registrada na Polícia Civil de Imbé sob o número 60/2017.

— Não entendemos por que ele fez isso. Enganou todo mundo, mas não ganhou nada. A decepção entre a nossa comunidade está muito grande com esse fato, porque todos gostaram muito dele e das celebrações que ele deu — lamenta a coordenadora da capela, Vera Hahn, 62 anos.

Tudo o que os devotos do balneário queriam era um padre para celebrar o Natal — o sacerdote que costuma tirar suas férias na localidade e rezar as missas durante parte do veraneio só chegaria alguns dias mais tarde. Surgiu, então, uma possibilidade que parecia caída do céu: um jovem supostamente recém-ordenado estava passando o final de semana na casa de um amigo seminarista a poucas quadras da igreja.

O seminarista, que referendou o falso sacerdote, assegura também ter sido enganado:

— Conheci o rapaz quando ele estava rezando uma missa em Criciúma, há algumas semanas, e ficamos amigos. Ele meio que se ofereceu para passar uns dias com a minha família aqui em Imbé, e se prontificou a rezar as missas — lamenta o seminarista, que prefere não se identificar.

Os fiéis que lotaram os bancos sagrados se surpreenderam com o talento do moço – – que afirmava ter 20 e poucos anos – ao desempenhar o papel de pastor de almas. Com uma batina emprestada pela própria igreja, recebia a população de braços abertos, dando boas-vindas à casa de Deus. Durante o sermão natalino, discorreu com esmero sobre o significado do nascimento de Jesus.

— Todos ficaram encantados. Até meu marido, que não gosta muito de missa, ficou comovido. Adorou — conta uma fiel que também prefere não dizer o nome.

Ao final da celebração, o pretenso religioso perguntou quantos dos presentes ali compareceriam outra vez à igreja na manhã seguinte, domingo, às 8h, para um novo encontro. Apenas um ou outro fiel ergueu os braços. O rapaz declarou:

— Não tem problema. Assim como Jesus disse que estaria onde houvesse duas ou três pessoas reunidas em nome dele, eu também estarei aqui por vocês.

Na manhã seguinte, cumpriu a promessa e comandou outra celebração. Familiar do seminarista que recebeu o falso padre em sua casa, uma costureira de 64 anos revela até ter se confessado com ele, a exemplo de outros frequentadores.

— Eu só estranhei um pouco quando fui pagar a penitência e me dei conta de que ele havia esquecido de me dar a absolvição. Me confesso a cada Natal, e agora minha confissão não teve validade. Me sinto muito decepcionada, porque gostei muito do moço. Sinto até pena dele, talvez sonhe ser padre — sustenta a costureira.

Atitudes incomuns levantaram suspeitas 

A família que recebeu o jovem em sua casa, em Imbé, estava encantada com seus modos educados e a disposição em atender a comunidade católica do Balneário Presidente. Mas, aos poucos, algumas atitudes começaram a chamar atenção e a despertar desconfiança. Antes de rumar para a igreja a fim de rezar a missa de Natal, secou uma garrafinha de vodca Ice.

— A gente estranhou um pouco aquilo, mas não falou nada — recorda a costureira que hospedou o jovem.

O padre que não era padre demonstrava um razoável conhecimento sobre a liturgia. Por isso, durante as missas, o público não percebeu nada fora do comum. Mas um certo nervosismo e um pouco de dificuldade para lembrar detalhes da cerimônia provocaram desconforto no seminarista — que auxiliou o então amigo durante as celebrações.

— Ele disse que estava um pouco nervoso porque não estava acostumado com tanta gente, mas se esqueceu até de consagrar as hóstias — relembra o futuro padre.

A aparência extremamente jovem do suposto sacerdote também virou motivo de comentários. Quando os paroquianos decidiram pedir uma identificação (a igreja fornece uma carteira com nome completo e foto para todos os padres), o jovem disse que havia esquecido em casa. Desde então, ainda no final de semana do Natal, sumiu e não foi mais visto na região.

Na ocorrência registrada na Polícia Civil, ele foi identificado como Luiz Eduardo Santos Gregis. Seria filho de uma família bastante católica de Santo Antônio da Patrulha e já teria rezado missas em outros locais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em seu perfil no Facebook, combina mensagens religiosas com fotos de amigos, viagens e caminhões. Também se identifica como estudante de engenharia mecânica.

O pároco responsável pelas cidades de Imbé e Tramandaí, frei Irineu Trentin, lamentou o episódio. Disse que a igreja decidiu registrar queixa na polícia para que isso não se repita e procurou orientar as demais paróquias que por vezes têm de contar com padres de fora:

— É preciso, sempre, solicitar a carteira de identificação do padre — observou.

A coordenadora da capela de Santo Antônio de Pádua, Vera Hahn, garante que a lição foi aprendida:

— Até pedi conselhos sobre questões familiares muito pessoais para ele. O pior é que os conselhos foram bons — conta Vera.

Fonte: Zero Hora

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