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Boatos dizem que Pokemón Go é da CIA e até do demônio; veja se app é do mal

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Com o sucesso do Pokémon Go, o game de realidade virtual tem sido alvo de boatos nas redes sociais com teorias da conspiração e até religiosas. O app que já chegou a ser relacionado à CIA (Agência de Inteligência Americana), agora também ganhou uma suposta relação com o demônio.

Uma corrente tem circulado pelo WhatsApp para “alertar” os pais dos jogadores. O tom de alarde se evidencia logo no título do texto: “POKÉMON GO — Saiba o que este jogo causará na sua vida e de seus filhos”. No relato, o game é obra do demônio em uma clara tentativa de afastar os jovens do caminho do bem.

“Estou alertando a você que tem filhos e são servos do Senhor que não permitam que o adversário entre na vida de seus filhos. Não ache que isso é mais uma tolice, pois Deis tem testificado que isso é mais uma afronta para destruir lares. Teremos filhos zumbis a procura desses monstros, mais conectados que nunca.”

O autor do texto também alerta para a promoção de lutas em igrejas e para a transformação de crianças em zumbis, que não conseguirão dormir por medo da invasão dos monstros. A corrente é finalizada dizendo que Pokémon é “demônio de bolso” e “Pikachu” é “demônio destruidor”.

A relação do jogo com o demônio não tem comprovação. Mas que isso não quer dizer que o game não tenha colocado alguns jogadores em perigo. São recorrentes relatos de roubo de celular, quedas e batidas de carro. Já houve até um caso de morte.

E qual é a relação do jogo com a CIA? 

Além da relação com o Satanás, o Pokémon Go já foi acusado de ser usado como bode expiatório da CIA. Isso porque diretor executivo da Niantic [criadora do jogo], Jonh Hanke, fundou no passado uma empresa que foi patrocinada por uma companhia fundada pela Agência de Inteligência Americana.

Mas, além de ter recebido o financiamento, o que é comum em startups, o game não tem nenhuma relação com o governo americano. E mais, não faz nada muito diferente de muitos outros aplicativos no quesito privacidade. Isso não quer dizer que ele não bisbilhote a sua vida, só que é mais ou menos como vários outros apps desde jogos a redes sociais.

Ai fica a pergunta: a diversão compensa os riscos? 

Como explica Robert Muggah, diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, a privacidade é uma das vítimas da era digital –facilitada pela penetração massiva da internet e dos telefones móveis.

A exigência de participar desta nova era de conectividade é o fornecimento de dados pessoais. Mesmo os defensores das liberdades civis mais fervorosos admitem que é impossível construir um muro em torno desses dados.”

Segundo ele, as mais variadas informações sobre cada pessoa são coletadas por governos e empresas. “Em alguns casos, os dados são oferecidos voluntariamente. Em outros, eles são coletados em silêncio, sem o conhecimento ou consentimento dos usuários.” Portanto, como Muggaho alerta, o Pokémon Go não é nem de longe o único vilão da privacidade. Todas as aplicações Android e iOS –gratuitas ou não – recolhem dados sobre seus usuários.

O próprio Facebook, com mais de 105 milhões de usuários no Brasil, é muito mais invasivo do que o game de realidade virtual. Além da localização e do acesso à câmera –como o Pokémon Go–, a rede social capta a lista de contatos e o número do celular.

“Para que o Facebook, por exemplo, precisa ter acesso a sua lista de contatos ou mesmo a sua localização?”, questiona Demi Getschko, conselheiro do  CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil).

Foi o caso do Pokémon GO, que, na sua primeira versão, em julho, pedia autorização para uma quantidade imensa de informações que nada tinham a ver com o funcionamento do game. Se a ausência da câmera e do GPS poderia inviabilizar o desenrolar do jogo, mensagens de e-mail e basicamente tudo que estivesse associado à conta Google do usuário extrapolavam o limite do aceitável.

Após diversas contestações, a produtora disse se tratar de um erro e lançou uma atualização com permissões bem mais restritas. E é essa que chegou ao Brasil.

Usuários precisam se conscientizar dos riscos

O problema não está única e exclusivamente nas fabricantes, mas também na falta de cuidado dos usuários, como aponta Getschko. A maioria, de acordo com ele, nem ao menos lê os termos de uso dos aplicativos. “Por ingenuidade ou até mesmo por preguiça, eles acabam entregando a alma para os desenvolvedores sem saber. Há também aqueles que pensam: não custa nada entregar isso ou aquilo. Será mesmo?”, acrescentou.

Uma pesquisa, realizada pela empresa de segurança digital Kaspersky, revelou que2 em cada 5 brasileiros abrem mão da privacidade ao instalar um novo aplicativo no smartphone. No Brasil, quase 40% dos consumidores não ligam para o contrato de licença do aplicativo ao instalá-lo no celular.

O estudo mostra ainda que cerca de 15% dos entrevistados nem ao menos leem as mensagens de instalação desses programas.

Apesar de as lojas oficiais de aplicativos –Google Play e App Store– serem cada vez mais rigorosas em relação à violação de privacidade dos usuários, segundo Muggah, há ainda muitos apps (especialmente aqueles que são produzidos na China) conhecidos por incluir programas maliciosos em seus códigos para coletar dados dos usuários sem o consentimento deles.

Até as aplicações aparentemente inofensivas podem colocar a sua privacidade em risco, conforme estudo da universidade americana Carnegie Mellon. Basta instalar o app para dar o desenvolvedor a permissão de administrador do seu celular, o que o dará acesso a tudo, inclusive a sua conta bancária. Já parou para pensar nisso?

“As pessoas estão dispostas a desistir dos dados pessoais em troca de um serviço. Esta é uma transação que é tão antiga quanto à própria humanidade. O que é menos compreendido são os ‘custos ocultos’ que a troca de informações pode causar”, alerta o diretor de pesquisa do Instituto Igarapé.  “Neste sentido, é uma análise custo-benefício simples.”

wpp

 

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