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Advogado e pré-candidato em SC é preso por suposto envolvimento com facção adversária do PCC

Jonathan Ribeiro

Jonathan Ribeiro

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Facção

Alexandre Hilário Prazeres foi preso junto com a esposa e outra advogada. Defensor é acusado de ser o elo entre os bandidos e o líder de facção, e fez 38 visitas ao cliente

Uma operação sigilosa do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) de Santa Catarina prendeu na última quinta-feira dois advogados criminalistas e uma professora da rede pública suspeitos de envolvimento com a maior facção criminosa atuante no Sul do país, o Primeiro Grupo Catarinense (PGC). O grupo é apontado como um dos principais rivais do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Foram detidos o advogado Alexandre Hilário Prazeres e sua esposa, a professora Camila Branco Sgaria, além da advogada Gabriela Cerino dos Santos. O trio é acusado pelo Ministério Público de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Outra advogada, Talita da Silva Bauer, está na mira do Gaeco pelas mesmas acusações, e teve o seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) suspenso.

A operação foi batizada de “Balthus”, um tipo de nó de gravata triangular grande e volumoso, muito usado por advogados. Na organização administrada por integrantes de facções, os defensores que se prestam a trabalhar para a aliança criminosa são apelidados de “gravatas”. Esses defensores recebem dinheiro para fazer a ponte entre os bandidos presos e os que estão em liberdade. O trabalho dos advogados é conhecido como “sintonia” e é facilitado pelo livre acesso que têm ao parlatório das penitenciárias a qualquer hora do dia.

Na mesma investida do Gaeco, foram autorizadas a quebra do sigilo telefônico e busca e apreensão na casa e no escritório dos advogados catarinenses Alexandre Hilário, Camila Sgaria, Talita da Silva Bauer, Gabriela Cerino, Vanessa Gabrielli Meneghel Schmidt e Rudieri Tomkelski Angel. Todos são suspeitos de envolvimento com a facção criminosa. Se condenados, os advogados podem pegar até 30 anos de prisão.

O advogado em pior situação na operação é Alexandre Hilário. De acordo com Ministério Público, desde 2020, o advogado visitou o líder do PGC, Alan Jesus Rodrigues da Conceição, 38 vezes. Aos olhos do Ministério Público, esse número é alto demais. Segundo outros advogados fora do caso e que defendem traficantes condenados, a visita a esse tipo de cliente não chega a duas por ano. Alan foi condenado a mais 40 anos por tráfico de drogas, homicídio, latrocínio e sequestro. Alan cumpre pena na Penitenciária Industrial de Chapecó.

No dia 12 de abril de 2020, Alan deixou a penitenciária para a “saidinha” de Páscoa. Na mesma data, seu rival no tráfico, Jarlei Corrêa, foi brutalmente assassinado no município de Luzerna (SC). Alan foi preso novamente e condenado posteriormente por homicídio. O aparelho do traficante foi apreendido quatro dias depois do crime. Numa mensagem recuperada, ele informa que o celular foi levado até ele na penitenciária por um “gravata”.

De acordo com o relatório do Ministério Público, numa das visitas suspeitas de Alexandre Hilário e Talita Bauer à penitenciária onde Alan está preso, ocorrida em 25 de maio de 2021, eles teriam repassado um celular para o traficante Gustavo Gomes, que entregaria a Alan, seu chefe na facção. Gustavo engoliu o aparelho assim que pegou das mãos dos “gravatas”. No entanto, o traficante foi obrigado a passar pelo scanner corporal, que apontou o aparelho escondido em seu estômago. No dia seguinte, Alexandre tentou entrar mais uma vez na penitenciária, mas foi impedido pela administração justamente por causa do aparelho encontrado no corpo do traficante. Procurada, a defesa dos envolvidos não quis se manifestar sobre o caso.

Alexandre Hilário é um advogado famoso em Santa Catarina. Circulava pelo interior vestindo ternos bem cortados. Sua vida profissional e pessoal havia ganhado um novo sentido desde que ele saiu da UTI, em 2021, onde ficou 40 dias em coma, devido a complicações da Covid-19. Atualmente, ele é presidente do PSD municipal de Joaçaba, e estava em plena campanha como pré-candidato à prefeitura do município. Após a prisão, o PSD declarou, por nota, que “reitera seu compromisso com a legislação e a ética em todas as esferas”, e que não compactua com desvios de conduta. Ainda segundo a legenda, punições “exemplares” será adotadas caso a investigação demonstre a participação do advogado.

Mulher de advogado movimentou R$ 2,8 milhões

Contratada pela prefeitura de Joaçaba (SC) com salário de R$ 10 mil, Camila, esposa de Alexandre Hilário, movimentou nos anos de 2021 e 2022, R$ 2,8 milhões em sua conta bancária. Com o seu sigilo bancário quebrado, foi possível comprovar que ela fez vários depósitos na conta de Alvino Rodrigues da Conceição, pai do traficante Alan. Camila também recebeu em sua conta corrente depósito em dinheiro de R$ 20 mil do traficante William Cordeir, aumentando ainda mais as suspeitas contra ela.

A investigação também identificou que Camila recebeu 31 depósitos não identificados, totalizando 44 mil reais num período de um ano. “Conforme se apurou, a representada Camila Branco Sgaria atuaria em conluio com seu companheiro, o representado Alexandre Hilário Prazeres, efetuando a lavagem de dinheiro oriundo da organização criminosa, especialmente do tráfico de drogas, mediante depósitos e transferências bancárias”, diz o relatório do Ministério Público.

Segundo as investigações, Gabriela Cerino, outra “gravata” presa na operação “Balthus”, teria sido arregimentada por Alexandre Hilário. Os dois chegaram a montar um escritório de advocacia juntos em 2021, no município de Capinzal (SC). Apesar de Alexandre Hilário ser efetivamente o defensor do traficante Alan, foi Gabriela que passou a realizar as visitas para ele, seja presencial no parlatório ou virtualmente. Durante o ano de 2022, a advogada teve 14 audiências com o traficante. O que chamou a atenção dos investigadores do Gaeco é que ela não fez qualquer petição a favor do bandido nesse período.

“Essas visitas às penitenciárias ilustram o modo de agir de Gabriela Cerino e de outros advogados admitido por ela numa interceptação telefônica. Ou seja, eles usam da prerrogativa da advocacia para colher informações com um faccionado. Na sequência, os advogados difundem os recados, em verdadeira atividade de ‘sintonia’, para outros que estão presos e também para integrantes que estão em liberdade. Essa é a verdadeira prestação de serviço percebida dos advogados”, diz o relatório do Ministério Público.

No fim de semana, o advogado Alexandre Hilário trocou o paletó e a gravata pelo uniforme laranja de presidiário. O relógio de luxo deu lugar a um par de algemas. O cabelo, sempre fixo com gel, foi raspado na máquina zero. Preso na cadeia de Joaçaba, Alexandre Hilário depende de um bom advogado se quiser deixar a cadeia.

Com informações O Globo 

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