Sem alarde, policiais que pressionam por um reajuste salarial acima da promessa linear de 5% aventada pela equipe econômica têm discutido um plano considerado apocalíptico para pressionar o governo federal: a realização de operações pente-fino diárias contra um contingente amplamente simpático ao presidente Jair Bolsonaro, os caminhoneiros. A ideia é fazer vistorias minuciosas em caminhões por todo o país, confiscando armas ilegais e mercadorias sem certificação e impedindo que cargas com qualquer irregularidade possam continuar o trajeto até o destino final.
A dura fiscalização, apesar de obrigação natural da Polícia Rodoviária Federal (PRF), não é feita cotidianamente, o que, segundo coordenadores do movimento ouvidos por VEJA, permitem que armas ilegais e cargas acima do peso estipulado em lei transitem normalmente.
Nas rodadas de negociações de policiais que, nos últimos dias, entraram em estado de mobilização permanentemente em bisca de recomposição salarial, o plano, que seria levado a diante pela PRF, corporação simpática ao bolsonarismo, prevê provocar distúrbios equivalentes a uma greve branca de caminhoneiros. Na administração de Michel Temes, a paralisação em massa desses profissionais em 2018 provocou estimativas de prejuízo de R$ 1,1 bilhão no setor siderúrgico, quase R$ 1 bilhão na indústria química e baixa expressiva demais de 15% na indústria automobilística.
Entre os policiais federais, que também estão a postos para entrar em operações-padrão por todo o país, a ideia é causar desgaste político com o atraso em serviços de imigração, emissão de passaportes e fiscalização de fronteira.
Nesta terça, representantes de diversas categorias policiais se reunião com o ministro da Justiça em busca de um reajuste salarial maior. Eles alegam que o Bolsonaro havia prometido, em uma reunião privada, que os policiais teriam vantagens similares de militares da reforma da previdência, como aposentadoria integral e correão do benefício de acordo com aumentos dos servidores da ativa, e que, mais recentemente, teria concordado com a recomposição salarial de 16% a 20% pela defasagem provocada pela inflação. O primeiro caso não foi cumprido. O segundo pode receber agora um empurrão com a ameaça de bater de frente com os caminhoneiros.
Com informações Veja