Ruim, horrível, devasta, colapso. Esses foram alguns dos adjetivos usados por uma especialista para analisar o relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, elaborado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
A professora de oceanografia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Roberta Rodrigues, conversou com a reportagem sobre o documento que ela considerou “o mais preciso de todos”.
Munidos do que há de melhor em pesquisa e tecnologia, cientistas de todo o mundo trouxeram um parecer bastante preocupante no que diz respeito as consequências climáticas que o mundo está prestes a sofrer a partir de anos e anos de desrespeito a atmosfera.
Roberta Rodrigues, que atualmente está como pesquisadora visitante na Universidade de Oxford, na Inglaterra, atuando no departamento Atmospheric, Oceanic and Planetary Physics, fez uma relação com o atual momento para elucidar a gravidade da situação:
“É devastador o que o relatório nos expõe. Isso aí vai causar um prejuízo muito maior que a Covid-19 a longo prazo”, comparou.
Alerta para SC
As mudanças climáticas estão entre os maiores problemas da sociedade, atualmente. Para encará-los, inclusive, são necessárias ações coordenadas em grupo.
Ainda que essa ideia alarmante dos prejuízos originados pelo desrespeito a natureza seja para o mundo inteiro, Santa Catarina é parte interessada no tema e precisa, dessa forma, entrar em sintonia com os grandes movimentos que buscam a interrupção da emissão de gases causadores do efeito estufa.
Eventos catastróficos, também em território catarinense, têm se tornado cada vez mais constantes: extremos de calor e de frio, longas secas, ciclones e chuvas devastadoras.
Santa Catarina, por estar situado em uma espécie de corredor transitório, precisa encarar esse recado da maneira mais séria possível, justamente, por estar naturalmente vulnerável a intempéries e ações do tempo
“Santa Catarina fica localizada entre uma região tropical, mais quente, na metade Norte do Brasil, com uma região mais fria e temperada da metade Sul do continente incluindo Argentina e Uruguai”, explicou a professora.
Roberta lembra que o principal causador da tempestade é justamente o encontro entre temperaturas extremas ou, na linguagem meteorológica, no encontro entre massas frias e quentes.
“O cinturão tropical está se expandindo. Florianópolis, antes, chovia o ano inteiro. Agora vemos secas maiores, estiagens maiores, condições que não existia”, acrescentou.
Boa notícia
A reação em cadeia gerada a partir da queima desenfreada das chamadas energias fósseis é de fácil compreensão, apesar da complexidade em que se reproduzem.
Se há interferência no ciclo de precipitação, há pouca chuva. Se há pouca chuva, a energia, sobretudo no Brasil, passa a ser ameaçada já que o País tem como fonte energética – e também um trunfo aos olhos do relatório – usinas hidrelétrica.
A falta de água também interfere no agronegócio o principal vetor econômico em Santa Catarina, por exemplo e no Brasil. Sem o agronegócio o dinheiro também acaba escasseando e se o dinheiro é reduzido o desemprego e vulnerabilidade social ascendem.
Apesar do alerta gerado a partir desse efeito dominó, há uma notícia boa por trás do relatório, segundo a professora de oceanografia: é possível reverter a situação.
Precisa ser imediatamente, mas ainda é possível reverter esse cenário. Para ela, no entanto, trata-se de uma missão um tanto complexa já que exige uma ação coesa dos países e, a própria preocupação não são as demais federações, mas sim o Brasil.
“Temos que ser mais incisivos [no combate a emissão dos gases]. O relatório mostra que acabou o tempo de espera. Não podemos ficar procrastinando. Precisamos de medidas imediatas. Temos que implementar ferramentas de diminuição da emissão dos gases”, lembrou.
Secretário-geral da ONU fala em alerta vermelho
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, classificou como “alerta vermelho” sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”.
O relatório foi divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês Intergovernmental Panel on Climate Change) nesta segunda-feira (9).
Com informações ND Mais