A Polícia Civil deflagrou uma megaoperação para desmantelar um esquema milionário de tráfico de armas e drogas — que movimentou cerca de meio bilhão de reais desde 2017 — em seis Estados, incluindo Santa Catarina. Em Florianópolis, um morador gaúcho, envolvido na facção, foi preso preventivamente na manhã desta terça-feira (20).
O morador da Capital movimentou R$ 16 milhões em suas contas bancárias. Ele agia a mando dos líderes, destinando dinheiro aos demais laranjas. Segundo a polícia, é o maior esquema de tráfico drogas e armas do Rio Grande do Sul. Foram emitidos 72 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão preventiva.
A conta de um menino de 7 anos, morador de Santa Maria, chegou a ser usada no esquema para a lavagem de dinheiro, além de financiamento de grandes roubos a assaltantes gaúchos.
As investigações duraram quase 2 anos. Com cerca de 330 agentes, a Operação Irmandade ocorre no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará. Outras 19 prisões temporárias solicitadas foram indeferidas.
O total, ainda a ser apurado nos bloqueios de ativos bancários, na bolsa de valores, em criptomoedas, bem como imóveis no vale dos Sinos, pode chegar a mais de R$ 3,5 milhões de reais. As medidas cautelares sendo efetivadas, apenas nesta terça, chega a 254, sendo ao longo da investigação 385 solicitadas e cumpridas.
Veja as cidades envolvidas
As cidades envolvidas na ação desta terça são Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Guaíba, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Encruzilhada do Sul, Charqueadas, Montenegro e Quaraí, todas no Rio Grande do Sul.
Além delas, há Florianópolis, Foz do Iguaçu, Londrina e Colombo, no Paraná, Ponta Porã e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Porto Seguro, na Bahia e Belém, no Pará. As diligências foram feitas também em São Paulo.
A ação teve apoio do GIE (Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos), Delegacia de Roubos do Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), Núcleo de Inteligência, dentre outros Departamentos da Polícia Civil gaúcha, além das Polícias Civis de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará.
A Operação também contou com o apoio logístico do Ministério da Justiça A União tem disponibilizado passagens e diárias para policiais dos Estados em ações de combate às grandes facções criminosas.
Entenda a investigação
Conforme a Polícia Civil, foi possível confirmar que alguns milhões em lucros de venda de drogas em diversas cidades gaúchas foram depositados em contas de laranjas do Rio Grande do Sul e de outros Estados.
As investigações comprovaram que uma facção de amplitude nacional, de origem paulista, está operando em conjunto, pelo menos desde 2017, com uma facção que tem base no Vale dos Sinos.
O elo entre os operadores do grupo nacional é um preso gaúcho, sendo que ambos gerenciam um esquema com 45 operadores responsáveis pela parte financeira e logística.
As transações envolviam, pelo menos, R$ 12 milhões de reais por mês a partir do Rio Grande do Sul, além de distribuição de entorpecentes e lavagem de dinheiro.
Veja o que cada um fazia no esquema
A Polícia Civil afirma que são robustas as provas sobre os alvos gaúchos e de outros Estados.
Um dos principais operadores logísticos da facção paulista é um baiano preso pela Polícia Federal do Pará, que cumpre pena em um presídio local. Ele havia sido preso em flagrante, sendo responsável por operar com aviões e mais de 500kg de cocaína no Norte do país.
O contato dele foi um gaúcho que atualmente está na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas. O líder, natural do Rio Grande do Sul, foi preso em São Paulo, em decorrência de investigação em Minas Gerais por tráfico de drogas em 2020.
Além disso, um irmão, nos últimos meses, foi detido durante negociação de uma metralhadora .50 no Rio de Janeiro com o Comando Vermelho. Outros dois investigados foram presos em 2017 no Estado do Rio de Janeiro com mais de 17 mil munições de vários calibres.
Operação em outros Estados
A organização gaúcha passou a operar em outros Estados, tanto em distribuição de drogas, quanto em tráfico de armas.
Assim, os alvos gaúchos desta terça estão trabalhando também para a grande facção nacional, além de apoio no branqueamento de capitais, ou seja, encobrindo o origem dos bens e rendimentos ilícitos e os transformando em capitais reutilizáveis legalmente.
O líder baiano, para garantir remessas de drogas e armas para o grupo gaúcho, exigiu que os traficantes passassem a realizar depósitos bancários com dinheiro obtido na distribuição estadual a pessoas jurídicas e físicas indicadas por ele, sendo todos laranjas e na maioria do Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e São Paulo.
Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, titular da DRLD/Denarc, tudo era gerenciado por três grandes operadores financeiros gaúchos, com vinculação criminosa com mais 36 pessoas no Rio Grande do Sul e demais suspeitos e empresas naqueles Estados.
Conforme a investigação, eles tinham que garantir a distribuição e logística da droga pela organização nacional e depois ficavam responsáveis por pagar pelos entorpecentes via depósitos bancários em contas de pessoas físicas e jurídicas em outros Estados.
A lavagem de dinheiro do lucro interno obtido pela facção gaúcha também era redistribuída no âmbito Estadual a outros grandes traficantes locais.
Como o grupo agia
Do total de 47 investigados, entre pessoas físicas e jurídicas, e 72 locais alvos de mandados de busca e apreensão, dois ficam em Foz do Iguaçu, um em Colombo, um no Pará, um em Porto Seguro, além de empresas naquele Estado e também Mato Grosso do Sul, Campo Grande e Ponta Porã.
Contudo, a investigação apontou que, de 2017 a 2019, dois irmãos de São Leopoldo eram os responsáveis por gerenciar a lavagem de dinheiro dos lucros da redistribuição interna e o pagamento ao núcleo nacional, envolvendo o baiano detido no Pará com o líder gaúcho desta organização, ora preso na PASC.
“Eles realizavam um emaranhado de transações bancárias no Rio Grande do Sul e nos outros cinco Estados, estruturadas em pequenas quantias para burlar fiscalizações das autoridades, muitas vezes realizando triangulações entre laranjas”, destacou Nonnenmacher.
Drogas apreendidas
O Diretor de Investigações do Denarc, delegado Carlos Henrique Braga Wendt, ressaltou que durante a investigação foi constatado que o grupo teve toneladas de maconha e cocaína apreendidas pelas forças de segurança pública.
Ele explica, ainda, que a organização criminosa é suspeita de trazer fuzis, bem como de operadores gaúchos trabalharem vendendo armas e drogas também para outros Estados a mando da facção nacional, fatos amplamente comprovados no Inquérito.
“Os extratos bancários e variados relatórios fiscais, bem como de inteligência financeira, confirmaram uma movimentação anual de R$ 120 milhões de reais das pessoas físicas e jurídicas investigadas. Para a Polícia Civil, essa união criminosa se tornou o maior esquema de venda de drogas e de lavagem de dinheiro no Rio Grande do Sul”, relatou.
Nonnenmacher destaca que “os grupos têm como característica usar bastante dinheiro em espécie para viver, abrir e fechar empresas para integrar e mesclar valores ilícitos, usando como passagem contas bancárias destas empresas e de pessoas físicas acima de qualquer suspeita”.
Esquema em outros países
O grupo estaria usando doleiros, um gaúcho, que tem mandado de busca e apreensão contra ele, e suspeitas acerca de um paranaense já investigado na Operação Lava-Jato. Também há indícios que os ativos estão sendo enviados para a Bolívia, Paraguai e Colômbia, além dos créditos vindos de outros Estados do Brasil para a célula gaúcha.
Foram encontradas conversas em que um Colombiano estaria comprando grande quantidade de maconha da facção nacional, via organização gaúcha.
O operador baiano, detido no Pará, e que mantém uma sociedade com o preso da PASC, foi citado recentemente pela imprensa francesa sobre as drogas que entram na Europa.
Com informações ND Mais