O número de pessoas que não retornaram para tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em Santa Catarina acende o alerta para a chamada imunidade coletiva e a volta da população à “vida normal”.
Conforme levantamento divulgado pela Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) na segunda-feira (28), 68.011 pessoas que tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19 não retornaram, no tempo adequado, para tomar a segunda dose.
O dado afasta o Estado da porcentagem ideal de pessoas vacinadas para que a rotina volte como era em um contexto pré-pandêmico.
Especialistas indicam que o chamado “número mágico” é a imunização de ao menos 70% da população com as duas doses da vacina contra a Covid-19.
Até está quinta-feira (1º), a primeira dose da vacina já havia sido aplicada em 2.631.300 pessoas no Estado ou 36,28% da população. Portanto, cerca de 3% deste número não retornou para a segunda aplicação.
Para o epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Fabrício Augusto Menegon, o número atual está dentro da margem esperada de perdas que constam nos programas e políticas de imunização contra outras doenças.
Contudo, quando se trata da Covid-19, isto é, uma doença recente e ainda em fase de pesquisas, a estratégia do Estado é vacinar toda a população adulta. “O ideal, portanto, é que não se perca ninguém”, afirma o especialista.
Vale ressaltar que o objetivo do governo de Santa Catarina é vacinar toda a população com 18 anos ou mais até o dia 31 de agosto de 2021.
“Imunidade de rebanho”
A chamada “imunidade de rebanho” é um conceito que representa o nível de proteção coletiva que bastaria para conter a transmissão da Covid-19.
O conceito se baseia em uma premissa que, quando uma porcentagem suficiente da população está imune ao vírus, cria uma barreira de proteção que protege do vírus o resto. Menegon explica que, com 70% da população do Estado totalmente imunizada, a tendência é de que haja a baixa na curva de contágio do vírus.
A maioria dos modelos epidemiológicos aponta que essa imunidade de grupo é alcançada quando a proteção atinge entre 60% e 80% da população. A porcentagem significa a queda de transmissibilidade do vírus, o que faria, teoricamente, a vida voltar à normalidade.
Não comparecimento é um risco
A última atualização do painel vacinômetro, do governo do Estado, mostra que, até esta quinta, a segunda dose da vacina contra a Covid-19 já foi aplicada em 829.099 pessoas, o que representa 11,43% da população catarinense.
O professor Menegon avalia que, quando há um contingente de pessoas, ainda que pequeno, que não retorna para a aplicação da segunda dose, a estratégia de imunização do Estado acaba sofrendo consequências.
“Se o número de pessoas que não voltaram para a imunização completa continuar aumentado e passar, por exemplo, dos 20%, teremos um grande risco de não conseguirmos frear a pandemia. Comprometeria a imunidade coletiva e a volta à normalidade”, alerta.
O especialista aponta que seria prudente que o Estado e os municípios criem uma força-tarefa para identificar quem são as pessoas que não retornaram aos pontos de vacinação e os motivos do não comparecimento. Isso considerando o atual cenário da pandemia e a estratégia de imunização adotada pelo Executivo estadual.
Dive faz alerta
Das quase 70 mil pessoas que não retornaram para a aplicação da segunda dose do imunizante contra a Covid-19, 47.650 são de pessoas vacinadas com a Coronavac e 20.361 de pessoas vacinadas com AstraZeneca.
Os dados são do SiPNI (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações), do Ministério da Saúde. A Dive/SC diz que orienta as secretarias municipais de saúde a realizarem a busca ativa das pessoas que não compareceram à aplicação da segunda dose.
O superintendente de vigilância em saúde, Eduardo Macário, alertou para a importância da imunização completa.
“Quem não toma das duas doses da vacina não está protegido e ainda pode ficar uma falsa sensação de segurança. Completar o esquema vacinal com as duas doses é essencial, além de manter os cuidados como o uso de máscaras, higienização e distanciamento social”, ressalta Eduardo Macário.
Com informações ND Mais