Para quem gostou do primeiro encontro entre Luiz Henrique da Silveira e Carlos Moisés, teve mais um episódio de aconselhamento fictício entre eles (na foto, Luiz Henrique e Evandro de Oliveira, o Jesus, ambos já falecidos).
O governador Carlos Moisés achou que já era hora de um novo papo com Luiz Henrique.
Um pouco constrangido, fez contato com o pai de santo.
Queria ficar na Agronômica e fazer a sessão por videoconferência.
Chamou o pai de santo no Whatsapp e deu a ideia:
– Podemos fazer a sessão pelo Whatsapp mesmo, por aqui é seguro. Só não dá para fazer pelo Zoom, porque lá vaza.
– Não. Tem que ser presencial. As entidades não trabalham com essas tecnologias – respondeu o pai de santo, em uma mensagem de voz.
Só de pensar que precisava ir a Biguaçu, já lhe veio à mente a figura de Douglas Borba.
Mas como não tinha outro jeito, tocou rumo a BR-101.
Com hora marcada, lá estava Moisés diante do pai de santo esperando pela “incorporação” da alma do ex-governador, seu novo conselheiro.
O negro fumava um charuto de um cheiro horrível. Parecia pior que o da primeira vez. Também dava uns goles num copo de cachaça.
– Trouxe o Innominable e o grana padana, da Gran Mestri, que te pedi?
Moisés entregou uma sacola com duas garrafas de vinho e uma peça de queijo.
– Isso mesmo. Bem os que o homem gosta. – disse, após conferir a mercadoria.
Sentou-se, tomou longo gole da cachaça e deu uma baforada no charuto, enchendo a pequena sala de fumaça.
Moisés tossiu e arrumou a máscara.
Como num passe de mágica, o pai de santo começou a falar com aquela voz característica de Luiz Henrique.
– O senhor aqui novamente? – perguntou surpreso – Quando o Jesus foi me chamar pensei que era o Colombo. Não sei se o senhor sabe, mas o Jesus, não o Cristo, o Evandro, que foi meu assessor, chegou não faz muito tempo e quando não está correndo atrás de algum roqueiro para pedir uma selfie, me ajuda com algumas coisas. Aqui está cheio deles. Outro dia ainda tive uma conversa com John Lennon e Elvis Presley.
Moisés estava pouco interessado com as coisas que aconteciam no além. Suas preocupações estão nos problemas terrenos.
– Uma das coisas que eu quero falar com o senhor é exatamente sobre o Colombo. Passou a dar entrevistas e fazer postagens em redes sociais falando mal do Governo. Não sei o que fazer…
Moisés estava nervoso. O cheiro da fumaça do charuto só piorava e ele estava com a impressão que o pai de santo gravava a sessão.
– Antes só tinha Cristo que ressuscitava mortos, agora tem o senhor também – disse Luiz Henrique, num tom de galhofa, emendando a fala com uma voz mais séria:
– Esquece o Colombo e vai trabalhar. Esquece as redes sociais um pouco. Deixa isso para quem entende do assunto e vai falar com o povo, vai lançar obras por esse Estado, fazer inaugurações, visitar hospitais… Saia um pouco da Agronômica, ou daqui a pouco você vai ressuscitar até o Amin, que já matei duas vezes.
Moisés tentou se explicar:
– Isso até estava nos meus planos, pelo menos um dia por semana, mas daí veio essa pandemia e temos que ficar em casa. Ainda tenho o pepino dos respiradores para descascar.
Luiz Henrique, pela voz, já começava a dar sinais de que estava ficando irritado.
– Ficar em casa é para a população que pode ficar em casa, para as pessoas do grupo de risco, para os velhos, para as crianças… – Disse com voz forte. – Você tem que trabalhar ou pelo menos mostrar que está trabalhando. Outro dia o Covas me falou do neto dele, que é prefeito de São Paulo. Trabalha mesmo com câncer. Você, são de lombo, só no conforto da Agronômica. Fazendo essas porras de live, tocando violão, assoviando…
O pai de santo encheu novamente o copo de cachaça, tomou um gole e olhou firme para Moisés, que quase caiu da cadeira.
Luiz Henrique voltou a falar:
– O dia que saiu na roda de conversa dos governadores que você vendeu o avião do Governo, até o Jorge Lacerda, que morreu num acidente aéreo, disse que era uma besteira. Você vai andar pelo Estado como? A cavalo?
– Foi promessa de campanha – disse Moisés.
O governador se mexia na cadeira tentando achar uma justificativa melhor, quando Luiz Henrique voltou a falar:
– Que promessa de campanha, rapaz?! Você nem campanha fez. Ganhou um mandato de mão beijada. Queria ver você numa campanha de verdade. Indo a Timbó Grande, Paial, Barra do Leão, Linha Becker, Pericó, comendo pão com linguiça mal assada e cumprimentando gente suada…. Nem sabe onde ficam esses lugares e ainda me vem falar em campanha.
Luiz Henrique já estava muito irritado.
– Vamos logo. Deixei o Geovah Amarante me substituindo num jogo de canastra. Depois que voltamos a conversar ele tem sido uma companhia agradável. O jogo é contra o Pedro Ivo e o Altair de Marco. Se eu não cuidar, eles me passam pra trás, como fizeram naquela prévia de 86.
Moisés então perguntou, com um ar de guri pequeno que está levando uma bronca do pai porque bateu o carro.
– Queria saber o que o senhor achou dessa minha ideia de ter um celular exclusivo só para falar com os deputados?
– Outra besteira. Já te disse na outra conversa o que os deputados querem. Você acha que os deputados não vão espalhar esse número para os amigos? Não é um número de telefone que resolve. É contato aberto. É atender demandas. Resumindo, você precisa trabalhar mais.
Moisés se mantinha calado, mãos trançadas sobre os joelhos e olhando para o chão.
O pai de santo bateu a cinza do charuto no canto da mesa, deu mais uma baforada e Luiz Henrique voltou a falar:
– Vou te dar dois conselhos, preste atenção. O primeiro: todos os deputados querem ser da base do Governo. Mas você não precisa ter todos com você, se não perde a graça. Tenha 21 de confiança e mais uma meia dúzia de seguro. Para isso, é simples. Atenda-os, abra as portas do Governo e cumpra tudo o que prometer. O combinado não sai caro.
– E qual o outro conselho? – quis saber logo Moisés.
– Já estava esquecendo. Tem mais um, sim. Quem me disse isso foi o Antonio Carlos Magalhães. Temos longas conversas. É sobre a imprensa: tem jornalista que quer notícia e tem jornalista que quer dinheiro. Então, nunca dê notícia para quem quer dinheiro e não dê dinheiro para quem quer notícia.
– Sei que o senhor está com pressa. Também gosto de um jogo de canastra – disse Moisés, tomando um fôlego.
– Muito obrigado por tudo e, só mais uma coisinha, se falar com o Colombo pede para ele parar de bater no meu Governo. Tem uma turma lá louca para puxar aquelas histórias da Casan, Odebrecht e JBS.
O pai de santo esvaziou o copo de cachaça em um único gole e Luiz Henrique encerrou o papo:
– Olhe para frente rapaz. Agradeça ao Colombo todos os dias. Não fosse ele ter deixado todo o projeto que construímos ido embora você jamais seria governador. Comece a trabalhar diariamente. Dia e noite se quiser ter sucesso. É para isso que você foi eleito. Ah! Já ia esquecendo, gostei deste Noivos no Parque, do Juarez Machado. Mas o meu preferido é Nubentes.
Quando Moisés falou que ia providenciar o outro quadro, o pai de santo já estava falando com sua voz normal e Luiz Henrique voltara para a canastra.
Por Frutuoso Oliveira