O aumento na procura por ivermectina para cães em agropecuárias preocupa autoridades de saúde em Blumenau. Ao menos oito estabelecimentos ouvidos pela reportagem do Jornal Santa relataram que a busca de clientes pelo produto, originalmente usado para tratar sarna em animais, chamou a atenção nas últimas duas semanas. Em praticamente todos os casos, segundo os funcionários, os consumidores dizem que o objetivo da compra é a automedicação como uma suposta prevenção à covid-19.
O proprietário de uma agropecuária de Blumenau, e que prefere não se identificar, contou que chegou a orientar um cliente sobre o risco e não vendeu o produto à pessoa. Outros sete estabelecimentos que a reportagem entrou em contato disseram aconselharam ao não uso, por ser um medicamento de uso veterinário, e também se surpreenderam com essa “corrida” pela ivermectina para cães.
“Falta de bom senso”
A médica Sabrina Sabino, que integra a Sociedade Brasileira de Infectologia e está na linha de frente do combate ao novo coronavírus em dois hospitais de Blumenau, diz ser “inadmissível que a população se submeta a tamanha falta de bom senso”. Ela alerta, ainda, que o uso de um medicamento destinado a animais pode trazer consequências e sequelas desconhecidas pela ciência.
“A ivermectina de uso veterinário, quando usada em humanos, pode trazer grandes riscos à saúde e efeitos colaterais desconhecidos. As formulações são feitas para animais e não podem ser usadas em humanos porque não sabemos a eficácia e segurança. Até por isso é o Ministério da Agricultura que autoriza [a comercialização] e fiscaliza o uso em animais, e não a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, ressaltou a médica.
A infectologista faz um apelo:
“Peço para que não utilizem a ivermectina. Se você quer se proteger contra a covid-19, faça isso com máscara, com distanciamento social, lavagem das mãos. Faça sua parte”.
O secretário municipal de Promoção da Saúde de Blumenau, Winnetou Krambeck, também demonstrou preocupação com esse cenário. Para ele, tomar remédio por conta própria, sem a avaliação de um especialista, já expõe um perigo. Com medicamento veterinário, pior ainda.
“As pessoas podem ter uma série de problemas por conta dessa procura descontrolada pela automedicação, que já é um risco de várias formas. O que a gente pede é que vá ao médico para que tenha uma avaliação profissional” disse Krambeck. Vale lembrar que todos os Ambulatórios Gerais (AGs) de Blumenau mantêm o atendimento, mesmo com a pandemia do novo coronavírus.
Conselho Federal de Farmácia alerta
Em maio, quando os primeiros estudos relacionados à ivermectina foram publicados, muitas farmácias começaram a ficar sem estoque da droga. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) chegou a receber denúncias de que a procura estaria aumentando em outros estabelecimentos, como agropecuárias e clínicas, o que motivou a entidade a emitir uma nota sobre essa situação.
No texto, o CFF diz que a consequência do uso de remédios veterinários em humanos são efeitos colaterais, “como dores de cabeça, diarreia e vômitos, ocasionados pelo consumo de produtos desconhecidos em suas formulações” e fez um apelo para que as pessoas não consumam esses medicamentos “por conta da não eficácia e segurança”.
Estudos sobre ivermectina
A alta procura pela ivermectina tem origem num estudo divulgado no início de abril pela Universidade de Mash, na Austrália. Pesquisadores identificaram que o medicamento reduziu a replicação do vírus Sars-Cov-2 em células in-vitro. Desde então, o estudo prosseguiu em testes pré-clínicos, que ainda não foram concluídos. A próxima fase, caso a hipótese se confirme, será testar a ivermectina em um grande número de pacientes.
Com informações Oeste Mais