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A estranha – Por Denilson Araújo

Uma história verdadeira!

Alguns anos depois de ter nascido, meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade.
Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, convidou-a a viver com nossa família.
A estranha aceitou e, desde então, tem estado connosco.
Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar na minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial.
Meus pais eram instrutores complementares… minha mãe ensinou-me o que era bom e o que era mau e meu pai ensinou-me a obedecer.
Mas a estranha era nossa narradora.
Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ela sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir, e fazia-me chorar.
A estranha nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, minha mãe levantava-se cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora pergunto-me se ela teria rezado alguma vez para que a estranha se fosse embora).
Meu pai dirigia o nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-las.
As blasfémias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… nem por nossa parte, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse.

 

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Entretanto, a nossa visitante de longo prazo usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava os meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.
Meu pai nunca nos deu  permissão  para  tomar  álcool.  Mas a estranha  animou-nos  a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, outros sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Agora sei que os meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência pela estranha.
Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso dos valores dos meus pais, mesmo assim, permaneceu no nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.

 

Não obstante, se hoje você pudesse entrar para a guarda dos meus pais, ainda a encontraria sentada no seu canto, esperando que alguém quisesse escutar as suas conversas, ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia…
Seu nome? Ah. seu nome… Chamamos-lhe TELEVISÃO!

 

É isso mesmo; a intrusa chama-se TELEVISÃO!
Agora ela tem um marido que se chama Computador, um filho que se chama Telemóvel e um neto de nome Tablet.
A estranha agora tem uma família. A nossa será que ainda existe?
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