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Time que já enfrentou o CAC desaparece de deixa mistério

O fim de um time de futebol da terceira divisão de Santa Catarina não deveria chamar a atenção. No mundo dos pequenos clubes do país, é rotineiro. Mas há muito pouco de comum nos sete anos de trajetória do Maga Esporte Clube. Uma equipe que surgiu do nada, não gostava de aparecer na mídia e desapareceu sem deixar rastros.

Poderia passar incólume, não fosse o envolvimento do empresário Mino Raiola, um dos mais poderosos do futebol mundial, com o clube.

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Um dirigente do futebol catarinense que pede para não ser identificado diz que o Maga foi envolvido em mistério. Da mesma maneira que surgiu, sumiu. Segundo o cartola, o clube não gostava que ninguém o acompanhasse.

Por estar baseado em uma cidade pequena, em Pomerode (SC), com cerca de 32 mil habitantes, era de se esperar que o clube atraísse o interesse pelo menos dos habitantes do local. No entanto, isso nunca aconteceu.

A reportagem por dois meses conversou com cartolas, ex-jogadores do clube e jornalistas que acompanham o futebol do Estado. Ninguém quer ter o nome envolvido com o Maga.

“Ninguém ia nos jogos. Não davam atenção. Vai começar a terceira divisão e eles devem participar. Não vão?”, disse Clemilton Oliveira, radialista que transmitia os jogos do time na Rádio Ponte.

Segundo a federação catarinense, no final de 2016 o clube avisou que encerraria as atividades. O fato de a única rádio que acompanhava o time não saber disso mostra a capacidade do Maga de se manter nas sombras.

O clube foi fundado em 2009 para que Mino Raiola registrasse jogadores no Brasil antes de mandá-los para a Europa. A ideia era que a equipe fosse uma ferramenta para encontrar novos atletas, jovens e, de preferência, com passaporte europeu.

Um dos nomes mais conhecidos entre os empresários do futebol mundial, Raiola é agente de Zlatan Ibrahimovic, Mario Balotelli e Paul Pogba. A Fifa abriu investigação para descobrir quanto ele levou na transferência de Pogba da Juventus (ITA) para o Manchester United (ING), a maior da história do futebol: 120 milhões de euros.

A desconfiança é que ele tenha embolsado cerca de 30 milhões de euros por ser dono de porcentagem dos direitos do meia, algo proibido hoje em dia pela entidade.

O envolvimento de Raiola com o Maga nasceu da influência da advogada paulista Rafaela Pimenta, braço direito do empresário. Em 2009, o clube estreou na terceira divisão catarinense.

Os resultados fora de campo logo começaram a aparecer. Naquele mesmo ano, o Milan (ITA) contratou o lateral Felipe Mattioni, que atuava pelo Grêmio. Apesar de estar em Porto Alegre, ele era registrado pelo Maga.

Dentro de campo, foi um desastre. A equipe ganhou a primeira partida oficial em 2011, por WO, contra o Pinheiros. Com a bola rolando, venceu a primeira em 2012, 2 a 1 sobre o Navegantes.

Contra o CAC, as partidas disputadas em 2009 foram vencidas pelo time caçadorense. No ano de 2011, o CAC chegou a vencer o Maga pelo placar de 7 a 0. Já em 2012, a equipe caçadorense venceu por 4 X 0 duas vezes.

Jornalistas chegaram a classificar o Maga como o pior time do mundo, em virtude das frequentes derrotas que o time sofreu durante sua breve existência. Um site chegou a afirmar que o time não tinha técnico regular, não treinava e nem tinha torcida.

Até mesmo a sede do Maga virou motivo de dúvidas. Para a federação, era em Indaial (a 168 km de Florianópolis), onde aconteciam os jogos no estádio com capacidade para mil pessoas. No site do clube, o endereço é Pomerode (a 170 km da capital).

 

MILHÕES

Jamais um clube de terceira divisão estadual no futebol brasileiro movimentou tanto dinheiro quanto o Maga. Em 2015, o atacante Jonathan, na época pretendido pelo Corinthians, foi vendido pelo Elche (ESP) para o Real Sociedad (ESP). O time catarinense era dono de 75% do jogador e embolsou 5,1 milhões de euros.

O valor dos ativos do Maga, de acordo com os balanços publicados pelo clube, cresceu ano a ano. Em 2015, no último documento publicado, possuía R$ 5.576.968,75 em aplicações de CDB (Certificado de Depósito Bancário) no Citibank. Ainda tinha um acordo com o Pescara (ITA) que lhe rendeu R$ 317.901,61.

Apesar dos milhões no banco, o clube mandou um e-mail para a federação em 28 de novembro de 2016 pedindo “compreensão” para não pagar uma dívida de R$ 1.750 referente às custas de processo no Tribunal Superior de Justiça do Estado. Dívida que até hoje não foi paga.

“O clube está em dificuldade para pagar o que tem”, afirma o texto da mensagem enviada por Valdemir Salviano da Silva, que em fevereiro de 2016 recebeu uma procuração para cuidar do futebol do Maga e contratar jogadores, desde que pagasse, no máximo, R$ 1.500 mensais.

No ano passado, o clube mandou suas partidas em Jaraguá do Sul, no estádio do clube de mesmo nome.

“Não tenho muito a falar sobre essa a história, não. Liga para a Sonia Pimenta”, pediu Da Silva, presidente do Jaraguá do Sul. A artista plástica Sonia Maria de Freitas Lacorte Vitale Pimenta, irmã de Rafaela Pimenta, era presidente do Maga.

A Folha de São Paulo passou os últimos dois meses tentando localizá-la. A única informação que recebeu era que ela estava na Europa com o marido. Por e-mail, a reportagem solicitou entrevista com a presidente. Não obteve resposta. Seu celular fornecido à federação catarinense está desligado. Mino Raiola não pôde ser encontrado pela reportagem. A federação catarinense afirma não ter nada a informar sobre o Maga.

 

Com informações da Folha de São Paulo

 

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