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Repórter relata drama após queda do avião: “impactante ver colegas sem vida”

O jornalista Rafael Henzel, um dos quatro brasileiros sobreviventes da tragédia com o avião que levava a Chapecoense, relatou os momentos anteriores ao acidente e o quão difícil foi saber que seus dois colegas de imprensa, o repórter Renan Agnolin e o cinegrafista Djalma Neto, que estavam ao seu lado na aeronave, estavam mortos.

“Primeiro achei que era um filme, que era um sonho. E que ia despertar logo desse sonho. Comecei a observar que vinha gente com algumas luzes, os socorristas. E aí eu comecei a gritar, dizendo que estava ali, naquele lugar. Eu estava preso em duas árvores, e aí com várias árvores ao redor. E aí foi o mais impactante ainda, porque as duas pessoas que estavam do meu lado estavam sem vida já. Dez centímetros para cá ou para lá o resultado poderia ser bem diferente”, afirmou em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo.

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“O momento mais triste para mim foi ver os dois colegas meus do lado. Chamei pelos dois e tive que buscar forças. Apesar de estar com sete costelas quebradas. Não foi fácil, não foi nada fácil mesmo. Chovia, 12 graus de temperatura. Era muito íngreme a trilha, não tinha socorristas onde a gente tava. Os socorristas foram fortes. Eu imagino duas coisas. Primeiro que foi um milagre. Segundo de eu ter acordado no segundo em que os socorristas estavam passando”, afirmou Henzel.

O repórter de 43 anos da rádio Oeste Capital de Chapecó estava sentado na penúltima fileira da aeronave, entre os outros dois jornalistas que acabaram perdendo a vida. Henzel revelou também como foram os últimos momentos do voo e que, em nenhum momento, o piloto ou os tripulantes avisaram o que de fato estava acontecendo.

“Toda vez que perguntávamos quanto tempo faltava, sempre respondiam os comissários: faltava dez minutos. Mais dez, mais dez minutos. De repente, simplesmente desligaram as luzes do avião. Desligaram os motores. E aí todo mundo voltou pro seu assento e colocou o cinto de segurança. Na hora que isso aconteceu causou um certo temor. Mas ninguém imaginaria que a gente bateria naquele morro”, contou.

“Reparei porque dois dos sobreviventes estavam atrás de mim, dois bolivianos. Reparei que houve uma aflição muito grande por parte da comissária que sobreviveu. Ela foi para o lugar dela, e quando ficou muito aflita, realmente a aflição tomou conta. Mas não lembro de ter havido gritaria, não lembro de ter… pânico no avião. Um silêncio estarrecedor. A gente não sabia o que estava acontecendo, até que veio o choque. Eu não lembro da pancada, porque ela foi de repente”, relatou.

“Dos voos que fiz com a Chapecoense, esse realmente estava sendo o melhor voo de todos. Não podia existir momento ideal para todos. Foi a viagem com maior interação, conversando com a imprensa, jogadores, comissão técnica”, disse.

O jornalista contou ainda que só soube que quase todos haviam morrido na queda três dias após o acidente e demonstrou revolta pelo avião ter ficado sem combustível.

“O que eu fico mais impressionado é que as pessoas morreram não por uma falha mecânica. As pessoas morreram por uma falta de discernimento. De um sujeito que de repente por causa de uma economia boba… Isso é revoltante”, disse.

Henzel fraturou sete costelas e sofre ainda com uma leve pneumonia, mas está no quarto do hospital em Medellín e nesta segunda-feira será transferido para o Brasil.

“Eu só espero pisar, pisar em Chapecó. Quero voltar pra casa… Eu quero voltar a pisar no solo chapecoense”, afirmou.

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