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Polícia apura se ‘jogo do tigrinho’ está ligado a esquema de pirâmide

Fortune Tiger: ‘Jogo do Tigrinho’ fez usuários perderem grandes quantias de dinheiro, e polícia investiga esquema de pirâmide

Após a operação que mirou a influenciadora digital Skarlete Mello, que promovia o ‘Jogo do tigrinho’, conhecido como ‘Fortune Tiger’, a Polícia Civil do Maranhão agora investiga se há mais vítimas do jogo de azar, que é ilegal no Brasil e já causou prejuízos financeiros a usuários.

O delegado-geral da Polícia Civil, Jair Paiva, afirma que há suspeita de que o jogo esteja ligado a um esquema de pirâmide financeira. Nesse tipo de esquema, pessoas são recrutadas para participar com promessa de retornos elevados. Porém, para que os rendimentos sejam pagos, é preciso que outros membros entrem no grupo, que aportam dinheiro e progressivamente atraem ainda mais integrantes.

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Até o momento, a suposta pirâmide financeira ainda é tratada apenas como hipótese.

“A Plataforma Tiger é um jogo proibido no Brasil. Temos informações de que várias pessoas tiveram prejuízo. As investigações seguem e, se for confirmada a existência de um esquema de pirâmide financeira, os envolvidos serão devidamente responsabilizados”, declarou o delegado.

Fortune Tiger é um jogo de cassino online do tipo caça níquel, que promete ganhos em dinheiro. Porém, como em outros jogos de azar, pessoas tendem a perder dinheiro na plataforma.

Segundo a polícia, o sistema do Fortune Tiger é hospedado fora do país e não possui registro ou representantes no Brasil.

“Recebemos denúncia de pessoas sendo remuneradas para estimular os consumidores a acessar jogos online que oferecem serviços não autorizados. Daí, quando você convida alguém para participar, ajuda a impulsionar o engajamento em uma plataforma ilegal e, eventualmente, pode ter participação na ilegalidade. Um indicativo é que os influenciadores são pagos”, afirmou o superintendente da SEIC, Augusto Barros, que participou da operação no Maranhão que investiga o jogo.

No Brasil, o chamado Jogo do Tigrinho ficou famoso devido à extensa campanha que incluiu muitos influenciadores digitais e jogadores que compartilham suas supostas ‘táticas’ nas redes sociais. No entanto, há a suspeita de que vídeos que mostram altos valores são feitos em contas usadas para testes (contas demo) do jogo, somente para simular ganhos reais e assim atrair novos jogadores.

Pessoas já perderam tudo e alguns já tiraram a vida

Uma das pessoas que tiveram prejuízos com a plataforma é a maquiadora Jhenifer Blume, que afirma ter sido enganada por um influenciador que promoveu o link do ‘Jogo do Tigrinho’ sem informar que ela poderia ter grandes perdas.

“Minha última perda foi de um valor de R$ 400, fora outros valores menores. Quem divulgou essa plataforma foi o influenciador Júnior André. Assim que teve esse ocorrido, eu entrei em contato com a assessoria dele, que ajuda a divulgar os links, mas foi em vão, pois, segundo eles, não podiam fazer nada”, afirmou.

O g1 entrou em contato com o influenciador Júnior André, que ficou famoso em São Luís por atuar no filme ‘Muleque Té Doido’. A assessoria do influenciador disse apenas que “é possível que algumas plataformas honrem com seu compromisso com os divulgadores, mas não com o público geral”, mas que sempre esteve de prontidão para ajudar a solucionar os problemas e que evitam divulgar plataformas com indícios de fraudes.

Logo após a operação da Polícia Civil contra uma influenciadora que divulgava o Fortune Tiger, Júnior apagou as postagens que tinha sobre o assunto e se diz lesado.

“Quando recebi a primeira mensagem sobre uma retirada não realizada, imediatamente retirei o link e tentei de todas as formas resolver o problema. Por ter apagado a postagem, também fui lesado, bloquearam meu saldo e não consegui realizar a retirada da plataforma e infelizmente fugiu do meu controle”, afirmou.

Casos de suicídio após perdas no jogo

Em outros casos, os prejuízos foram tão grandes que levaram os jogadores a tirar a própria vida. À TV Mirante, o delegado Pedro Adão, que participa das investigações sobre o Fortune Tiger, confirmou que existem pelo menos três casos como esse no Maranhão.

“Nós tivemos no Maranhão o registro de três suicídios decorrentes de pessoas que começaram a jogar esses joguinhos eletrônicos, perderam uma grande quantidade de dinheiro e acabaram por ceifar suas próprias vidas. Então a gente começou a investigar esses digitais influencers com atuação no Instagram que divulgam constantemente esses jogos e incitam as pessoas a jogarem, que acabam perdeu seu dinheiro. São jogos que foram feitos para tirar o dinheiro das pessoas”

Um dos casos aconteceu no município de Formosa da Serra Negra, no interior do Maranhão. Rafael Mendes, de 17 anos, cometeu suicídio no dia 10 de setembro.

Rafael era jogador de futebol e teria aplicado no Fortune Tiger cerca de R$ 50 mil que tinha recebido de herança da mãe. Ele perdeu tudo, segundo o delegado Brito Júnior, titular da delegacia de Formosa da Serra Negra.

Semanas antes, a socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), da cidade de Pastos Bons, Jaciaria Borgens, também teria tirado a própria vida por causa de um prejuízo provocado pelo ‘Jogo do Tigrinho’.

De acordo com o delegado Francisco Taveira, Jaciara recebia uma quantia em dinheiro do marido, que mora em São Paulo, com a esperança de construir uma casa. No entanto, ela teria feito várias apostas com o dinheiro no Fortune Tiger e perdeu tudo.

Influenciadora do ‘Jogo do Tigre’ foi alvo de operação e teve bens apreendidos

Na última terça-feira (26), a influenciadora digital Skarlete Mello foi alvo da operação ‘Quebrando a Banca’, da Polícia Civil do Maranhão, por colaborar com o Fortune Tiger e ganhar dinheiro divulgando o game de apostas em suas redes sociais.

No Instagram, Skarlete tem mais de 300 mil seguidores, ostenta riqueza e faz questão de divulgar o jogo, no qual ela diz que ‘Joga quem quer’. Também existem divulgações de vários jogos considerados ‘de azar’.

Segundo a polícia, foi detectada uma movimentação patrimonial incompatível com ao menos cinco investigados, incluindo a Skarlete e sua mãe. Valores altos que teriam sido conquistados por meio do jogo.

Durante a operação, policiais foram até a residência de Skarlete, em São Luís, e cumpriram mandados de busca e apreensão que somam mais de R$ 1 milhão em bens. Foram apreendidas três motocicletas, quatro carros, incluindo dois veículos de luxo, um jet-ski, e a Justiça autorizou o bloqueio de R$ 8 milhões em conta bancária.

Os crimes associados à Skarlete são divulgação dos jogos de azar, loteria não autorizada, organização criminosa e lavagem de dinheiro, segundo a polícia.

As investigadores apontaram ainda que Skarlete estaria fazendo uma rifa em que o prêmio seria um carro avaliado em R$ 299 mil. O carro era alugado e também foi apreendido.

O carro anunciado no esquema como prêmio é um modelo Audi. Na divulgação da rifa, pelas redes sociais, a influenciadora digital explica que para ganhar o veículo podem ser feitos lances a partir de R$ 0,60.

Por meio das redes sociais, o g1 Maranhão entrou em contato com a influenciadora Skarlete Mello, que não respondeu até a publicação da reportagem. Pelas redes sociais do marido, que também é conhecido por divulgar jogos de azar, a influenciadora disse que se ‘assustou’ com os policiais que entraram na casa dela e que pensa em sair do Maranhão.

Em outro vídeo, ela diz que, apesar da operação, a rifa do carro anunciado vai acontecer e que os jogos vão continuar sendo feitos porque ela ‘não tem culpa de nada’.

“O pessoal que está se desesperando ai referente a rifa. Deixa eu falar uma coisa pra vocês, a rifa vai acontecer e os jogos vão continuar”, disse no vídeo (veja acima).

Projeto de lei tenta proibir a divulgação do Fortune Tiger e outros jogos

No Maranhão, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Maranhão aprovou, no dia 25 de setembro, a redação final do Projeto de Lei 523/2023, que proíbe influenciadores digitais de fazerem divulgação de jogos comercializados por plataformas digitais estrangeiras.

O PL é de autoria do deputado estadual Dr. Yglésio (PSB), mas ainda não foi votado no plenário. Em Brasília, a Câmara dos Deputados aprovou, no dia 13 de setembro, o projeto que regulamenta o mercado de apostas esportivas e apostas online, como cassinos virtuais.

O texto, que segue para votação do Senado, é uma das propostas do Ministério da Fazenda para aumentar a arrecadação e estabelece tributação a prêmios e casas de apostas, taxa de operação e regras para publicidade do setor. Dentre os pré-requisitos, está a obrigação de a empresa de apostas ter sede no país e ser constituída no Brasil.

Com informações G1 

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