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O velho e desgastado assistencialismo

O velho e desgastado assistencialismo

Velho assistencialismo

Há algumas semanas, uma parlamentar de Caçador resolveu tratar de um assunto que, em primeira vista, parece polêmico: o uso de grana que vem do Governo Federal para a confecção de brindes para os usuários dos CRAS.

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Só para constar, trata-se de pessoas mais carentes que se beneficiam de um programa do Governo Federal, que é gerido pela secretaria de Assistência Social.

Pois bem. Vamos aos fatos: em primeiro lugar, a “denúncia” desta parlamentar não se baseou nas necessidades das pessoas que receberam os brindes, mas sim na sua própria visão (de quem recebe um bom salário) de que não era necessário que os mais pobres recebam brindes.

Para esta vereadora, a Secretaria de Assistência Social errou. Deveria ter deixado de usar esta verba, carimbada, que, óbvio, retornaria para o Governo Federal.

Além desta crítica, houve comentários acerca da comida que as pessoas que frequentam os CRAS estavam recebendo. E pasmem: por causa da variedade e do que elas estavam recebendo: quindins, doces, bolos, pastéis e outras guloseimas que, em sua maioria, aqueles humildes só comem quando vão aos CRAS. Isso é fato.

Para tirar a dúvida, resolvi conversar com as pessoas que receberam estes “benefícios”, coisa que nenhum dos críticos, e nem a vereadora, fez.

Estavam reunidos mais de 80 participantes dos CRAS em um curso de panificação. Conversei com uns 10. E a resposta, espontânea, foi a mesma de todos: ficaram maravilhados com os brindes que receberam. “Sabe meu filho, eu não tinha mais aparador de chimarrão. Mas ganhei um. A minha caneca então, está lá em cima da geladeira, enfeitando minha casa”, disse uma senhora, nos idos dos seus 70 anos.

Outro idoso, com dificuldades da fala, fez questão de responder com gestos às perguntas, sempre com o dedo positivo levantado. Quando algumas palavras saíram da sua boca, ouvimos: “Muito bom vir aqui”.

Outra idosa, falante e feliz da vida por estar participando do CRAS Martello, parou para me contar o atendimento que recebe das “assistente social”. “Todos são abençoados aqui e me tratam muito bem”, garantiu.

A respeito da comida, todos (e muitos nem foi preciso pedir) afirmaram que uma das coisas que mais gostam quando vão às reuniões, é a diversidade de coisas na hora do lanche. “Banquetes”, definem.

Quando falam sobre as viagens, aquelas pessoas enchem os olhos de lágrimas para lembrar da diversão dos parques e “de um lugar muito bonito que eu não lembro o nome”, como narrou uma idosa.

Velho assistencialismo 1

Mas, segundo o velho assistencialismo que está se pregando por aí, os recursos destinados a viagens, brindes e diversidade de comida deveria ser investido em cestas básicas, como era feito antigamente, tentando manter as pessoas subordinadas ao cabresto.

Este mesmo velho assistencialismo não quer que as pessoas tenham qualidade de vida e fiquem reféns da boa vontade dos governantes, quando precisam apenas de comida.

É com o velho assistencialismo que se prega que as pessoas podem apenas comer e o básico: feijão, arroz, farofa e, de vez em quando polenta. Variedades? Não, de forma alguma. Afinal, é dinheiro público utilizado para comprar mais de uma variedade de comida né? “Que se compre cestas básicas”, dizem os defensores desse assistencialismo medíocre e antigo.

Em vez disso, o que se vê e está aberto a qualquer um, são pessoas alegres, se divertindo, com a autoestima elevada, ante aquela população carente de antigamente e que se contentava com as tais cestas básicas.

Hoje, elas saem de casa e têm motivos para isso. “Eu melhorei do meu problema na perna porque comecei a sair e vir aqui”, disse uma mulher, com no máximo 50 anos. “Só não posso dançar muito”, gabou-se, com um farto sorriso no rosto.

Mas, é desse sorriso que os defensores do velho assistencialismo têm medo. Afinal, as pessoas com autoestima mais alta não vão se contentar com as migalhas do passado. Elas querem continuar sorrindo, de bem com a vida, o que está acontecendo agora.

Velho assistencialismo 2

Apenas imagino o discurso dos defensores do velho e barato assistencialismo para serem contrários ao jantar que os usuários dos CRAS terão no Di Fratelli (restaurante do Centro de Caçador) ou mesmo à tarde do sorvete.

Certamente, nestes dois eventos faltará câmera para focar as quantidades de sorrisos de famílias inteiras se divertindo e sendo bem tratadas.

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