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Meu filho é hiperativo ou ele é agitado mesmo? – Por Fran Marin Menzel

Será que meu filho é desatento, bagunceiro, desorganizado ou ele é hiperativo mesmo? Essa dúvida persegue muitas mães e nós professores. Conviver com uma pessoa desorganizada, distraída, falante demais ou muito agitada pode ser difícil e até irritante para alguns. Os muito distraídos acabam sendo interpretados como pouco confiáveis e os mais agitados são capazes de tirar o clima de tranquilidade de um lugar.

Se você conhece alguém que preenche essas características, fique atento: ela pode ter TDAH. A sigla identifica o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, transtorno neurobiológico de causa genética e que se caracteriza por sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade. Estudos apontam que cerca de 5% da população em idade escolar e 4% da população adulta sofram com o transtorno.

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Seu filho não para quieto um instante, não fica um minuto sequer focado, luta para conseguir prestar atenção em qualquer coisa, até no que você fala, interrompe todo mundo e atrapalha a aula. E você se pergunta se ele é  ansioso, irrequieto ou se pode ter o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, conhecido pela sigla TDAH. Se seu pequeno tem algum desses sintomas, esteja certa de que você não é a primeira mãe a se colocar essa dúvida. “Todo mundo, em certo grau, é disperso e tem dificuldade para manter-se focado, mas o fator determinante para saber se a criança pode ter TDAH é o prejuízo que esses sinais trazem à vida dela”, diz o psiquiatra Paulo Mattos, presidente do Conselho Científico da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).

O TDAH é um dos transtornos mentais que mais afetam as crianças, só perdendo para a ansiedade e os distúrbios de aprendizagem. “Cerca de 5% das crianças e adolescentes, independentemente do país onde vivam, sofrem com o problema”, diz Mattos.

Já se descobriu que o cérebro de pessoas com o transtorno funciona de maneira diferente, demora em amadurecer. Por isso, os circuitos que fazem a comunicação entre as células nervosas (os neurônios) de algumas regiões do cérebro levam mais tempo para estar “prontos para o combate” e duas substâncias liberadas pelos neurônios que ajudam a transmitir a informação nervosa entre eles são produzidas em menor quantidade. “Isso acontece principalmente no córtex pré-frontal, região do cérebro que controla o que chamamos de funções executivas: o planejamento, a atenção, a organização e o autocontrole”, explica Mattos. Ou seja, funcionando desorganizadamente, a criança, claro, tem dificuldade de se controlar e prestar atenção. Algo como um maestro dando aos músicos instruções para que toquem uma sinfonia num andamento diferente do pensado pelo autor. Os músicos se atrapalham e a orquestra desanda.

Sintomas

Fatores de risco

A ciência ainda não sabe com certeza o que causa o TDAH, mas vários estudos apontam que os genes têm um grande papel. Algumas pesquisas mostraram que pessoas que sofrem com a condição têm de quatro a dez vezes mais probabilidade de ter filhos com o distúrbio. “O TDAH muito provavelmente resulta de vários fatores, como a obesidade”, conta Mattos. O que se sabe, no entanto, é que questões sociais e ambientais podem aumentar os riscos de a criança apresentar o transtorno. “Mães que fumaram durante a gravidez ou tiveram problemas com álcool ou drogas, crianças que nasceram precocemente ou com pouco peso correm mais risco”, aponta Guilherme Polanczyk, professor de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da USP.

Sintomas podem confundir

Um dos desafios do diagnóstico do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade é eliminar as possibilidades de que os sintomas apresentados pela criança tenham outras causas. Depressão, distúrbios de ansiedade, dislexia, autismo, problemas de visão, anemia e até abuso ou negligência por parte dos pais podem levar a criança a perder o foco e a atenção. Por isso, só um médico especializado e bem treinado é capaz de identificar o TDAH.

É preciso que o médico pesquise se os sinais foram gerados por outro transtorno. Não há nenhum teste de sangue, genético, aparelho computadorizado ou exame neurofisiológico que possa diagnosticar o TDAH.

Para detectar a condição, o médico segue uma lista de 18 perguntas, que são respondidas pela criança, pelos pais e professores. Com base na quantificação das respostas e da intensidade dos sintomas listados, consegue-se identificar se ela tem déficit de atenção, hiperatividade ou uma combinação dos dois. “É importante frisar que, se a criança apresenta apenas alguns sintomas, não se faz o diagnóstico de TDAH. E, se tem muitos dos sintomas, mas não há prejuízos, também não”, alerta Mattos. De acordo com Schmitz, a intensidade e a frequência desses sintomas são o fiel da balança.

Especialistas

A escola, assim como os pais, tem papel importantíssimo no diagnóstico e é uma peça fundamental para que o médico consiga “pintar o quadro”. É mais complicado reconhecer o tipo desatento, porque geralmente ele passa despercebido. Assim, pode-se levar tempo até ele chegar a um especialista, com muitos prejuízos acumulados. Já o hiperativo atrapalha o andamento da aula. Daí a importância do professor no fechamento do diagnóstico, pois ele conhece bem o aluno e é capaz de identificar sintomas significativos.

Muitas vezes a criança com TDAH do tipo desatento só vai manifestar mais fortemente os sintomas quando ficar maior e tiver de enfrentar tarefas mais complexas, que dependem de grande nível de atenção. “Mais do que isso, crianças muito inteligentes conseguem driblar o problema, porque captam rapidamente o que é explicado pela professora e podem flanar o resto do tempo.”

Remédio: sim ou não?

Assim como acontece com outros transtornos mentais, como a depressão, muita gente questiona o uso de remédio para tratar o TDAH alegando que os efeitos colaterais e o risco de dependência superariam os benefícios. Mas o fato é que todos os grandes estudos realizados no mundo apontam que os estimulantes são, hoje, a forma mais eficaz de aliviar e controlar os sintomas do distúrbio, principalmente a desatenção e a impulsividade, fazendo com que a criança ganhe qualidade de vida. “Mas essa é uma decisão que deve ser tomada caso a caso. E não adianta só dar a medicação. Ela tem de ser bem administrada e controlada, até porque nem sempre a criança se dá bem com o primeiro remédio que é prescrito e é preciso trocar ou acertar a dose”, alerta Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e da adolescência da Universidade de São Paulo.

Assim como qualquer outra droga, pode provocar efeitos colaterais, entre eles desconforto gástrico, dor de cabeça, perda de apetite, tontura e alterações no sono. “O remédio não vicia e, com o tempo, dependendo de cada caso, é possível fazer a retirada progressiva – no período de férias, por exemplo. Se os sintomas não voltarem à tona, pode-se restringir o uso às situações onde há mais necessidade”, afirma Mattos.

Remédio, no entanto, não é o único tratamento possível. Os médicos defendem fazer um mix com psicoterapia. A que tem mostrado melhores resultados é a chamada terapia comportamental. O objetivo é, no longo prazo, reforçar hábitos positivos da criança, fazendo com que ela adote um novo padrão de comportamento, principalmente em relação à escola e aos estudos. “O remédio, sozinho, não ensina aptidões acadêmicas ou sociais à criança. Muitas vezes, percebe-se que ela tem péssimos hábitos de estudo. Combinação de remédio com terapia é a opção que considero excelente”,

Algumas tarefas que podem influenciar positivamente a rotina:

Ter TDAH não é sinônimo de fracasso, mas implica em cuidados e ações positivas para favorecer a organização, o controle das tarefas e do tempo e comportamentos que ajudem o indivíduo na sua caminhada profissional. O melhor procedimento é que    ele se sinta acolhido, compreendido, e amado… e que nos períodos de maior desatenção, seja tratado com paciência e compreensão. No entanto, o distúrbio não deve funcionar  como “álibe ou desculpa”  para a acomodação  ou  para justificar todo e qualquer comportamento. A família deve incentiva-lo ao tratamento.

Um forte abraço e até a próxima

Francielle Marin Menzel

Psicóloga Clinica CRP12/12973

Telefone: 88767887

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