O lateral Alan Ruschel, sobrevivente do acidente com o avião da Lamia que levava a Chapecoense para Medellín, concedeu uma entrevista coletiva na Arena Condá na manhã deste sábado, dezesseis horas após deixar o hospital em Chapecó.
Ao lado dos médicos que o acompanharam na Colômbia, Edson Stakonski e Carlos Mendonça, o jogador falou da sua vontade de retornar aos gramados em seis meses. Mendonça confirmou que Ruschel vai voltar a jogar.
No começo da coletiva, o jogador chorou ao se lembrar dos companheiros de clube. Contou que, durante o voo, o diretor de futebol, Cadu Gaúcho, falou para ele se sentar mais à frente, já que a parte do fundo da aeronave era reservada aos jornalistas. O goleiro Follmann também o chamou para sentar mais à frente. Foi um convite para a vida.
O presidente do clube, Plínio de Nês Filho, afirmou que a presença de Ruschel traz alento e ajuda a suprir a falta dos amigos e colegas que se foram.
“Para nós, você é motivo de esperança, fé, otimismo e continuidade”, disse.
Depois da entrevista, o atleta foi até o gramado e cumprimentou funcionários do clube. Ele viaja ainda hoje para Nova Hartz, no Rio Grande do Sul, onde vai visitar o pai.
Confira os principais pontos da coletiva:
Sentimentos
“Não tem palavras para explicar o que estou sentindo. É uma mistura de sentimentos. Uma alegria grande por estar aqui de novo, sentado aqui, mas, ao mesmo tempo, em luto por ter perdido vários … (choro).. ter perdido muitos amigos. Postei uma foto esses dias falando que seguirei em frente, honrando os que foram morar com Deus. Honrarei seus familiares que aqui ficaram e que hoje estão sentindo a dor, e farei de tudo para voltar a jogar, com muita paciência. Farei de tudo para dar muita alegria ao seu Plínio, Mendonça, Edson e farei de tudo para dar alegria para a torcida.”
Como sobreviveu
“Deus é a única explicação. No momento em que caiu aquele avião, Deus me pegou no colo e falou que tinha mais missão aqui na Terra e por isso não me levou. São dois milagres: estar vivo e poder estar andando. Os médicos falaram que tive uma lesão grave na coluna. Poder estar aqui e caminhando, só por Deus.”
Mudar
“Tinha planejado muitas coisas nas férias e final de ano. Estava indo para um jogo e a gente não sabe se vai voltar, o que vai acontecer daqui a dez minutos A lição é viver, aproveitar a vida e fazer o bem. O que fizeram comigo, o jeito que me trataram na Colômbia, aqui. Não tem explicação. Viver a vida e fazer o bem.”
Acidente
“Não lembro, eu lembro de sair de São Paulo, depois a gente chegando em Santa Cruz de la Sierra e saindo de lá. Não lembro do voo, do acidente. Lembro da minha esposa falando comigo no hospital. Parecia um sonho, um pesadelo, não sabia o que estava acontecendo. Aos poucos, iam me contando, aos poucos, a ficha foi caindo. Quando vi ela (sic) (a esposa Marina) não sabia o que estava acontecendo, não sabia do jogo, não sabia de nada.”
Troca de poltrona
“Quando chegou a Santa Cruz de La sierra e íamos pegar o voo fretado, o Cadu (Gaúcho) pediu para sentar um pouco mais para a frente para deixar os jornalistas no fundo. Na hora eu não quis sair dali. Aí vi o Follmann… (choro) ele insistiu para sentar com ele. Aí saí de trás para sentar junto com o Follmann.”
Em casa
“É uma situação que todos devem imaginar: como é chegar em casa depois de dias de trabalho, de viagem, sabem como é chegar em casa. Depois de toda essa situação, poder dormir com minha esposa, ter o cachorro, minha mãe, todo mundo em casa. Não tem palavras para descrever o momento.”
No estádio
“Quando eu entrei aqui foi a sensação de estar voltando para casa. Falei para seu Plínio que vou dar alegria para ele, para o torcedor da Chapecoense, muito esforço, trabalho. Vou dar a volta por cima e voltar a jogar.”
Acidente
“Procurei nem falar muito do acidente. Quis evitar olhar notícias, até para não ver coisas que de repente não iria gostar. Pelo que deu para ver por cima acho que teve um pouco de ganância.”
Neto
“Neto é um amor de pessoa. Neto é outro milagre de Deus assim como Follmann, Rafael. Já tinha uma amizade boa com ele. A gente se dava super bem. Hoje, Neto é um cara que vou levar para a vida toda como um irmão para mim.”
Retorno
“Falei com o Mendonça, na Colômbia, que queria voltar antes (dos seis meses). Mas Mendonça falou que precisava calcificar primeiro a coluna o que daria três meses aí com muita fisioterapia e trabalho. Fiz meus cálculos e já se passaram 20 dias, mais dois meses e meio, mais três meses para recuperar a parte física, que estou na capa do grilo, e depois voltar a jogar.”
Comida
“Quando acontece esse tipo de situação a gente começa a dar valor para coisa simples. Falei para a Marina (namorada) como estava com vontade de tomar café, comer pão com nata e presunto. Todo dia levantava, tomava, comia, e lá não tinha. Coisas simples que a gente começa dar valor. Edson (Stakonski) descobriu depois que quando eu estava na UTI tomei uma Coca. Não sentia gosto de nada. Odeio manga e comi uma manga inteira, não sentia gosto. Falei para a Marina comprar uma Coca para mim. O Edson liberou. Chegando em casa, a primeira coisa que quis foi feijão, arroz e um bife acebolado.”
Chapecoense
“A Chapecoense era muito mais que um time, era uma família. No dia do jogo do Palmeiras, estava voltando do jogo e conversando com o Anderson Paixão, e tocamos nesse assunto. Falei que nos últimos três meses foram muitos jogos e a gente ficava mais tempo juntos do que com a nossa família. Disse que era por isso que estava chegando onde chegou. A gente era muito unido. Além de colegas, a gente era amigo.”
Promessa de churrasco
“Promessa é divida, vou pagar, vai ter a maionese da Marina, o Follmann tocando um violão para a gente. Pretendo pagar churrasco o quanto antes.”
Com informações de Darci Debona – Diário Catarinense