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Crônicas do Fruto: Novo encontro entre Carlos Moisés e Luiz Henrique

Na foto, o governador vistoriando a rodovia entre Jaborá e Ouro, quarta-feira.

Após combinar com o pai de santo, Moisés foi a Biguaçu antes do dia clarear.

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Não estava a fim de ser visto no município vizinho a Florianópolis depois dos últimos episódios.

O negro o recebeu com uma cara de sono.

– Não sei se os guias vão baixar neste horário. Nunca fiz trabalhos de madrugada.

Moisés parecia irritado. Talvez por ter levantado tão cedo.

– Por que? – indagou – Por um acaso tem fuso horário em relação onde eles estão.

– Não sei. Apenas disse que neste horário nunca realizei nenhuma sessão – falou o pai de santo. – Já lhe disse, sou apenas um cavalo. Quem manda são eles.

Para surpresa de Moisés, Luiz Henrique “desceu” rápido.
Parecia que estava aguardando a sua chegada.

– Gostei de ver governador. Foi a Joinville, Capinzal, Ouro e Chapecó. Percebeu que o povo não tira pedaço? Gostei que foi a Joinville. Percebo que está colocando em prática meus conselhos.

– Foi bom – disse Moisés, com voz desanimada. – Às vezes tem um chato ou outro, mas a maioria das pessoas me trata super bem. Mas meus problemas só tem aumentado.

Luiz Henrique notou as preocupações do governador e falou com voz calma:

– Não precisa me contar seus problemas. Tenho acompanhado seu Governo em detalhes. O senhor tem sido o assunto predileto na turma de Santa Catarina. Alguns mais puritanos, como o Sérgio Grando, estão escandalizados.

Moisés estava nervoso, chateado, sonolento e mal humorado. Falou com uma voz tristonha:

– Pois é doutor Luiz… Nunca imaginei que fosse tão difícil ser governador. Hoje me arrependo de cada palavra que disse criticando os políticos. Não bastasse a crise dos respiradores que não chegam, as confusões no Porto de São Francisco e outras que ainda não saíram na imprensa, agora esse deputado com essa história maluca envolvendo a minha vida pessoal. Ainda se fosse verdade, mas uma mentira. Pura sacanagem desse cara.

O pai de santo parecia que agora estava bem acordado. A cara de sono sumiu e passou a fumar um charuto. Deu duas baforadas bem no rosto de Moisés e voltou a falar com a voz anasalada de Luiz Henrique, mas com muita calma.

– Percebi que o senhor não gosta muito de história, literatura, essas coisas… Mas eu gosto e preciso fazer uma citação. O senhor já deve ter ouvido a frase “a mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Essa frase é atribuída a Julio Cesar, o grande imperador romano, referindo-se a sua mulher Pompeia.

– A questão não é com minha mulher, é comigo. – interrompeu Moisés.

O pai de santo voltou a fumar o charuto. Desta vez não tossia, como das anteriores. “Se estava com coronavírus, se curou”, pensou Moisés.

Assim que ele soltou o charuto no canto da mesa, Luiz Henrique falou novamente:

– Calma. Eu sei, não tem nada a ver com sua mulher. Acontece que Pompeia deu uma festa lá na Roma antiga apenas para mulheres. Mas um cara, um tal de Públio, entrou na festa disfarçado para tentar seduzi-la. Não aconteceu nada entre os dois, mas Julio Cesar, mesmo não apresentando nenhuma denúncia contra o invasor, se divorciou de Pompeia.

Apesar de parecer não entender muito o que Luiz Henrique falava, Moisés escutava atentamente. O ex-governador continuou:

– Essa festa que ocorreu na Roma antiga é a política. Nessa festa só deveria entrar gente honesta, séria, comprometida com os interesses da sociedade. Julio Cesar é a sociedade. É o eleitor. O senhor é Pompeia. Entendeu agora? Além de sério, o senhor precisa parecer sério. Se isso não ocorrer, a sociedade vai lhe pedir o divórcio muito em breve. Compreendeu?

Moisés acenou com a cabeça que havia compreendido.

– Conversou com o MDB? – perguntou Luiz Henrique, mudando de assunto.

– Falei com o Eduardo Moreira. – respondeu Moisés.

Luiz Henrique mudou o tom de voz, começando a se irritar:

– Fez errado. Te orientei para falar com os deputados. Um por um. São eles que poderão votar pelo teu impeachment na Assembleia.

Moisés baixou a cabeça e respondeu, encabulado:

– Pois é, mas o Eduardo é uma liderança forte do partido. Achei que ele poderia ajudar.

O pai de santo deu o primeiro gole na cachaça que havia servido antes de começar a sessão e Luiz Henrique voltou a falar, com voz firme:

– Não há dúvida que o Eduardo é uma grande liderança do partido, mas o senhor está acostumado com essa hierarquia militar, onde o coronel manda, e no MDB não é assim. Vou ensinar como funciona o MDB de Santa Catarina. Não existe liderança mais forte ou mais fraca. Todos no MDB sabem do seu valor e não aceitam imposições. Vou dizer uma coisa: eu parecia forte no MDB, mas a cada convenção era uma luta, era uma batalha para fazer valer a minha opinião.

O negro deu mais uma baforada de fumaça no rosto de Moisés e seguiu falando:

– Em qualquer outro partido, depois de ter sido duas vezes governador, eu mandaria como quisesse. No MDB, para colocar o Eduardo de vice do Colombo precisou ser no voto. Duas vezes. Lá é assim. Até o Calça Larga, que o senhor não deve saber quem é, mas se quiser conhecer o MDB deverá saber, discute com um ex-governador e é ouvido.

Moisés estava fascinado pelos conselhos do ex-governador.

Às vezes imaginava que estava num sonho, outras que estava mesmo conversando com Luiz Henrique. “Se contasse isso para alguém seria chamado de louco”, imaginou.

Luiz Henrique continuou falando:

– O senhor lembra que falei que o Konder Reis foi vítima de uma fake news, muitos anos antes de existir a internet? Por isso fui me aconselhar com ele para saber o que lhe dizer.

– Mas era fake news mesmo essa história do Konder Reis? – indagou Moisés.

– A história que o deputado andou espalhando, é fake News? – perguntou Luiz Henrique, de forma ríspida. – Eu acredito no que o Konder Reis me disse, assim como acreditei no senhor.

Moisés perdeu a linha e quase perdeu a voz. Seus dias não estavam mesmo legais. “O que eu tinha de interromper o homem dessa maneira. Vai que ele não aparece mais”, pensou.

– O senhor me desculpe. Não estou duvidando. É que muita gente fala. Sabe como é o povo. Por favor, me diga o que eu faço.

O pai de santo tomou mais um gole de cachaça e Luiz Henrique voltou a falar:

– O Konder Reis me disse que aprendeu na sua longa vida que só os que devem é que se ofendem com as calúnias. Por isso, faça tudo o que deve fazer. Contrate advogado, processe, mas não gaste a tua energia. Você precisa dela para governar o Estado. Teus problemas nesse momento são muito maiores que isso. Você reagiu a uma fake news e não reage ao sumiço de 33 milhões?! É isso que você precisa explicar à sociedade e não essas fofocas de alcova.

-Vou fazer isso. Mudei meu chefe da comunicação. – disse Moisés – e estou começando a viajar, como o senhor me orientou.

– É isso que você precisa fazer. Falei em nosso primeiro encontro. Precisa trabalhar, correr o Estado. Esse é o papel do governador, animar os empresários, os políticos e a população de um modo geral. Mas se o cidadão está com dificuldade, olha para você e vê essa tua cara, ele fica a fim de se jogar da ponte.

Moisés mudou a fisionomia. Tentou parecer mais animado. Olhou para o pai de santo e falou:

– Não sei como agradecer ao senhor por tantos conselhos. Não fossem essas nossas conversas acho que já tinha renunciado.

Luiz Henrique o interrompeu:

– Você está proibido de falar a palavra renúncia se quiser continuar se encontrando comigo. Trabalhe, rapaz. Para de ser… Como vocês falam na ilha?

– Mandrião? – disse Moisés.

– Isso. Deixe de ser mandrião e vai cuidar do nosso Estado.

Quando Moisés foi responder, o pai de santo estava maneando a cabeça de um lado para o outro e logo voltou a falar com seu sotaque de nortista.

Luiz Henrique já havia voltado para seu lugar.

#conversasembiguaçu

Por Frutuoso Oliveira 

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