O Hospital Regional do Oeste, na cidade de Chapecó (SC), está com leitos de UTIs neonatal e pediátrica 100% ocupados. Médicos dizem que não há leitos suficientes na unidade de saúde para atender a demanda de pacientes, por isso precisam improvisar vagas de Unidades de Terapia Intensiva em outros setores.
Taylor tem apenas um dia de vida, mas já enfrenta um desafio gigante, pois teve uma parada respiratória após o parto e precisou de um leito de UTI neonatal. Em razão da gravidade, o recém-nascido precisou ser internado em um leito improvisado no mesmo setor.
“Fiquei bastante preocupada com ele, ainda bem que houve um lugar para ser internado na hora. Acho uma situação triste. Também fico pensando nos outros”, disse a mãe do Taylor, Camila Alves Culzzel.
A SES (Secretaria de Estado da Saúde) informou, por meio de nota, que está conversando diretamente com as unidades prestadoras de serviços de saúde na região Oeste, que relataram dificuldade de ampliação por conta da falta de profissionais especializados na região.
“Foram abertos recentemente leitos de UTI neonatal em Curitibanos. Com isso, é importante frisar que, diferente da rede privada, os hospitais da rede pública possuem um sistema capilarizado, que permite que a distribuição dos leitos seja feita em todo o Estado conforme a necessidade de cada paciente”, diz.
Além disso, informa que todos os pacientes que aguardam por transferência para um leito de UTI estão sendo plenamente assistidos. A nota na íntegra está no final da matéria.
Internação improvisada
O berçário do hospital, que funciona como UTI intermediária, conta com apenas cinco leitos, mas neste setor estão internados sete bebês, dois de forma improvisada.
“A gente precisou criar uma sala de atendimento no Centro Obstétrico para esses bebês que precisam de UTI neonatal. Então fazemos um remanejo: deixamos os pacientes mais graves na UTI neonatal, e os menos graves, mas que precisam de cuidados, são realocados para o Centro Obstétrico”, afirmou a coordenadora da UTI neonatal, Kelly Patrícia Führ.
Kelly relata que os pacientes que estão aguardando leitos de UTI, em geral, estão tratando algum tipo de infecção ou tiveram alguma intercorrência no nascimento. “Não temos como prever alguma evolução, mas tentamos deixar os pacientes que têm mais riscos em nossos olhos.”
Os pacientes que precisam de leitos de UTI são cadastrados na Central Estadual de Regulação de Internações Hospitalares, de modo a encontrar uma vaga disponível em outras cidades para atender da melhor maneira as necessidades.
“No momento temos um paciente aceito em Joinville, mas ainda estamos aguardando as questões de transferência. Também dependemos das condições do tempo para o transporte aéreo. As vezes ocorrem de ter a vaga, mas levam até três dias para conseguir liberar esse paciente para outro município”, explica a coordenadora.
Esse é o caso do Theo, que tem apenas três dias de vida e nasceu prematuro. O bebê deve ser transferido para o hospital de Joinville, no Norte de Santa Catarina. A mãe Cleidiane também está internada no HRO por complicações no parto.
“É uma situação muito triste, pois eu já não esperava ter ele antes da hora e agora ter que ver ele ser tirado de perto de nós. É muito triste, não desejo para ninguém. Uma situação desesperadora”, comenta a mãe do Theo, Cleidiane Appi, que mora em Chapecó.
Cleidiane tem apenas um desejo: “que eu me recupere e que ele não precise ir para lá, e fique aqui pertinho de mim, porque não estou podendo ir junto e vou ter que ficar longe dele. Vai ser muito pior”, diz a mãe, que segue internada no hospital.
“Essa situação que estamos enfrentando hoje já é uma situação crônica. Já teve períodos piores. Há vários meses estamos precisando de leitos de UTI”, ressalta Kelly.
Pediatria
A pediatria do Hospital Regional do Oeste também está com os cinco leitos lotados. Dois pacientes aguardam vaga na enfermaria do Hospital da Criança há mais de uma semana.
“Se tivéssemos 10 leitos, com certeza, nesta época do ano, ainda seriam poucos. A pediatria é muito sazonal. No verão sobram leitos, mas no inverno precisamos ter mais leitos”, diz a coordenadora da UTI pediátrica, Caroline Pritsch.
O agricultor Delir Almeida, morador de Cordilheira Alta (SC), está com o filho Rhavi Emanuel Mendes Portella Almeida, de 1 ano e 6 meses, internado na enfermaria do Hospital da Criança aguardando um leito de UTI, pois o filho precisa realizar uma cirurgia pulmonar de urgência.
A expectativa da família era de conseguir uma vaga na Região Oeste Catarinense, no entanto, será necessário transferir o paciente para o hospital de Joinville para realizar o procedimento, em razão da falta de leitos no Hospital Regional do Oeste.
Sem profissionais, salários atrasados e desleixo dos gestores
Os médicos também reclamam que estão com o salário atrasado. “Recebi na semana passada o salário do mês de março. Aí precisamos trabalhar em outros lugares para pagar as contas, isso acaba tornando nossa rotina diária muito pesada, pois não podemos nos dedicar exclusivamente ao hospital, em razão da falta de salário”, diz a coordenadora da UTI pediátrica, Caroline Pritsch.
Caroline comenta que o atraso no pagamento de salário, que não recebe reajuste há mais de quatro anos, dificulta atrair profissionais da área na cidade. “Somos oito especialistas na área e precisamos de mais ajuda porque está muito pesado para nós”, finaliza.
Os R$14 milhões repassados pelo governo catarinense ao hospital, em utiparcelas de R$7 milhões, não poderão ser usados para quitar os salários em atraso. Os valores só podem ser utilizados para despesas a partir de 2 de junho, quando o convênio foi publicado.
A Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira, que administra os hospitais, confirmou a informação e disse que busca recursos para colocar os salários em dia, mas ainda não tem previsão para isso. A entidade ainda afirmou que não fará mais empréstimos para pagar a conta que é do governo.